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Fotos: Farol de Notícias/Alejandro García

Nesta sexta-feira (18), o FAROL DE NOTÍCIAS finalizou os trabalhos do dia com a visita do jovem poeta, compositor e cantor serratalhadense Henrique Brandão. O artista desde criança entrou e contato com a poesia de tradição oral do Sertão do Pajeú e hoje leva no seu caçoá de versos o nome de Serra Talhada pelas veredas que percorre. Neste entrevista, ele também gravou um vídeo declamando o poema Dois Brasis, que causou grande repercussão no Festival Recitata em Recife.

ENTREVISTA COM HENRIQUE BRANDÃO

FAROL: Boa tarde Henrique, seja bem vindo a redação do FAROL, é um prazer para nós entrevista-lo. Gostaríamos de saber sobre a poesia do Pajeú, que tem uma forte tradição na região, mas não chega aos jovens e você é jovem e já um poeta. Como foi que começou sua história com a poesia?

HENRIQUE BRANDÃO: Boa tarde, Manu, gostaria de agradecer o convite para fazer esse registro e toda a equipe do FAROL. Minha entrada na poesia foi engraçada, meu pai ele é poeta. Aquele poeta sertanejo, é um cara que gosta de poesia, gosta de contar piada. Luiz Gonzaga Brandão, ele é conhecido como Lula Brandão. O seu Lula é aquele poeta que diz poesia, tem uma resposta rápida. O poeta não é só o que escreve, que faz poesia, o que escreve música. O poeta também tem a questão do raciocínio, então tem muitos relatos de pessoas do Pajeú, pessoas de fora que ficaram conhecidas no meio da poesia, mas não se sabe um poema dessas pessoas. São aqueles que têm essas respostas rápidas, tiradas inteligentes.

Mas meu pai é poeta também, ele escreve e ele sempre levava, nessa época eu era criança, tinha 4 a 5 anos, e ele levava para casa essas fitas k7 de poetas já conhecidos nessa época. A registro de Chico Pedrosa, tinha registro de Amazan, ele ainda nem era um poeta tão conhecido, mas figurava também nesse cenário. E eu passava a escutar juntamente com ele e eu ia decorando aquelas poesias, criancinha. E geralmente quando tinha visita em casa ele sempre dizia: ‘Diga aí aquela poema’ e tal. Então, a minha entrada na poesia, meu primeiro contato foi em casa, com meu pai que levava e eu escutava na rádio também.

Só que eu morava no sítio, na zona rural de Serra Talhada, em um lugar chamado Fazenda Caibros, fica próximo a Fazenda São Miguel e vim morar em Serra Talhada em 2004 para trabalhar e estudar. Eu passei um bom tempo sem contato com a poesia e com a música, mais ou menos até 2011, um período de 7 anos sem muito contato. Então eu conheci alguns poetas por acaso, através de um amigo muito querido e poeta Renato Solon e ele me apresentou mais dois poetas, Caio Menezes de São José do Egito e Cícero Moraes de São José do Belmonte. E meu contato com a poesia dessa fase que a gente tá vendo agora foi a partir daí.

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A poesia daqui do Pajeú já começou a ser vista com outros olhos e muito graças a essa geração. Tivemos uma lacuna de 10 a 15 anos que a poesia deu uma estremecida, mas a nossa geração tem grandes poetas. Poetas que já estão aí a nível nacional, a exemplo do poeta Antônio Marinho, que conseguiram resgatar essa nossa vertente poética. E a juventude está se interessando cada vez mais pela poesia, e hoje temos representantes de alto nível fazendo poesia, escrevendo livros, gravando CDs e praticamente todas as cidades do Pajeú, isso fortalece muito.

Pessoas de diferentes segmentos, universitários, a gente tem advogados fazendo poesia, pessoas já ligadas com a arte, com a música, com o teatro. Essa junção de pessoas jovens, pessoas genuinamente do Pajeú fez ascender novamente a nossa poesia. Hoje eu digo que a poesia está vivendo um momento muito especial, começou a ser vista fora do Pajeú, fora de Pernambuco, fora do Nordeste inclusive. E isso me alegra muito de poder contribuir, poder fazer parte de uma geração de tantos poetas com uma projeção maravilhosa, isso me deixa muito feliz.

FAROL: Você também tem uma vertente musical muito forte, a poesia tem uma raiz muito forte na música. Você se apresenta com uma banda de forró pé de serra e no meio do show também faz declamações de poesias suas. Quando foi que profissionalmente a música começou a conversar dessa forma com a poesia?

HENRIQUE BRANDÃO: A música é mais recente, eu já fazia poesia e gostava de cantar, só que cantar de uma forma mais espontânea. Às vezes quando tinha a apresentação de algum artista conhecido ele me chamava ao palco e eu subia, cantava alguma coisa ou declamava. No ano de 2012 teve um show na festa da padroeira, no palco cultura daqui da praça Sérgio Magalhães do poeta Tico de Som, poeta amigo e parceiro também em algumas canções. E esse poeta me convidou para fazer algumas músicas com ele e poesia como participação no show dele. Fiz essa participação, o show foi muito bom, o pessoal gostou e logo após um convite através da Casa da Cultura de Serra Talhada para fazer o Natal.

Então, a gente reuniu a galera, ensaiou, montou o repertório pautado no tradicional, na música nordestina ensaiamos duas ou três vezes e fizemos esse show. Isso foi dia 30 de dezembro de 2012, então isso eu posso dizer que foi o primeiro show com a banda. Desde então a gente já tocou no estado todo, em todas as microrregiões exatamente por isso. Porque a poesia e a música estão muito ligadas, na poesia também tem música. Então, passamos a viajar para eventos de poesia que também tem música. A minha integração na música foi através da poesia, não posso dizer que são duas coisas separadas.

Por esse motivo eu resolvi assumir uma identidade musical, nosso show é pautado na música regional e na poesia. Eu canto músicas minhas, composições autorais, canto grandes nomes da nossa cultura dentre eles Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Assisão, são pessoas que não podem faltar em um repertório tradicional e também declamo durante o show. O show é dinâmico, ele tem essa interação com o público, a poesia traz o públicas o para perto de você. Então o evento que tem música e poesia é bem mais de integração. As pessoas interagem com o artista, a poesia toca o sentimento das pessoas do jeito que uma poesia não toca.

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FAROL: Para finalizar, gostaria que você fizesse um balanço de quantas poesias você já escreveu ao longo desses anos?

HENRIQUE BRANDÃO: Olha, é muita coisa. Mensurar o número eu não sei. Eu tenho um livro pronto e outro quase pronto, só que como o projeto da música se apressou um pouco mais eu tive que deixar o projeto da poesia um pouquinho em stand by, porque no momento não dava para tocar os dois projetos. Mas no meu último balanço de poesias eu tinha 186 poesias, então quando eu fui fazer esse balanço e separar por gêneros eu vi que era muita poesia para colocar em um livro. Então, eu tirei um pouco do gênero tradicional para colocar em um livro e um pouco do gênero mais resbucado, uma poesia mais de lirismo, de romantismo. Então a partir do ano que vem a gente vai tocar mais esse projeto do livro.

Um já está pronto, mas não está publicado, não está diagramado ainda. Eu digo que está pronto a questão de obra, a partir do que já tem lá em questão de obra a gente vai só revisar, formatar e diagramar. O outro ainda não, às vezes eu tiro alguma poesia, porque te muitos poemas e quando eu vou fazer o balanço de novo eu vejo que tem algum outro poema que fica melhor. Mas possivelmente eu vou lançar os dois em 2016, um mais no início do ano e o outro mais no final, mas com essa temática. Um mais tradicional e um mais romântico, mais lírico.

FAROL: No próximo sábado, dia 26 de setembro você está organizando um super evento de poesia em Serra Talhada, gostaria que você nos apresentasse o evento e falasse dos preparativos?

HENRIQUE BRANDÃO: O I Serra Cultural é um sonho, um evento que eu planejo e sonho já há alguns anos. Ele é mais ou menos no formato de outros eventos que eu já participei em outras cidades do Pajeú, posso citar os principais: O maior evento do Pajeú hoje se chama Balaio Cultural,  um evento idealizado em Tuparetama e que já é feito em outras cidades e em outros estados. Temos também a Cesta de Cultura em Brejinho, a Cantilena em Ingazeira e o Caçoá de Cultura em São José do Egito. São eventos periódicos que contemplam exatamente isso que eu estou falando, contemplam a poesia, a música, o repente, apresentações de dança, tudo isso no mesmo dia.

Você não vai para assistir só o recital, você vai para o recital, para a parte de música, para a parte de dança, para a parte de literatura os poetas levam o seu material, seus cordéis, seus CDs e vão comercializar. É um evento bem rico culturalmente falando, e eu pensei que Serra Talhada também poderia acontecer um evento, com um formato parecido com esse. O evento tem alguns parceiros, eu não estou fazendo sozinho, e o portal Nayn Neto está dando um apoio estrutural, na parte artística eu entro em contato com os amigos. A nossa classe poética é muito unida. Eu fiz alguns contatos com amigos da poesia, da música, sanfoneiros e conseguimos montar uma programação bem diversificada com poetas de renome nacional, como o poeta Anchieta Dali, conhecido em todo o país.

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FAROL: Você espera receber quantos poetas, repentistas, cantadores e demais artistas no dia 26?

HENRIQUE BRANDÃO: A nossa programação em cerca de 25 artistas, isso pode aumentar ou pode diminuir. O que acontece? A gente está no evento e de repente chega um poeta que não estava na programação, mas ele está ali. Tendo espaço e tendo tempo e se o poeta estiver disponível a gente chama ele para participar. É assim que a gente faz, é essa a integração que eu falo. O evento não precisa ser uma coisa complexa e engessada. Tem esse dinamismo, o poeta chega e tá no meio do povo, a gente cita ele e sobe, diz uma poesia, pega o violão e canta uma música. Os evento culturais do Pajeú é exatamente isso, essa disponibilidade dos artistas de participarem, muitos se disponibilizam a ir para os eventos pelo custo ou por um cachê simbólico exatamente pela luta, pela causa, pelo fortalecimento da causa.

A gente vem pensando esse evento com muito carinho e eu fiquei um pouco apreensivo porque eu não sabia como seria a nossa repercussão. A gente estima que seja um público bom, já fizemos divulgação nas universidades e faculdades, em outras cidades, na internet, nas redes sociais o pessoal tá comentando, está compartilhando e tudo indica que vai ser um evento cultural interessante para que a gente possa incluir no calendário cultural de Serra Talhada.

HENRIQUE BRANDÃO DECLAMANDO O POEMA DOIS BRASIS