Do G1

Com 370 mil casos registrados do novo coronavírus, atrás apenas dos EUA e do Brasil, o baixo número de mortes na Rússia — cerca de 4 mil, que equivalem à taxa ínfima de 27 para cada milhão de pessoas — leva a crer que o governo esteja maquiando os dados e que a situação é bem mais grave do que as estatísticas oficiais revelam. Nos EUA, a taxa de letalidade é de 305 por milhão; no Brasil, 116.

Uma pesquisa realizada em meados de maio pelo site de notícias Meduza corrobora a suspeita de que, apesar do alto índice de infecção, o governo russo encobre os mortos: um em cada três médicos que estão na linha de frente da pandemia disse ter sido orientado a mudar o relato de óbito, rotulando, por exemplo, de outra forma a pneumonia causada pela Covid-19.

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Ou seja, nem todas as mortes decorrentes do novo coronavírus são descritas como tal. Pacientes infectados acabaram tendo como causa da morte acidentes vasculares, câncer ou falência de órgãos.

Os jornais “Financial Times” e “The New York Times” estimam que o número de mortes na Rússia é 70% maior do que o indicado pelas autoridades, baseado no levantamento de óbitos em Moscou e São Petersburgo em relação ao último ano. O governo rebate e atribui os dados à desinformação.

O novo coronavírus, porém, cerca o Kremlin, infectando integrantes do alto escalão, como o primeiro-ministro Mikhail Mishustin e o porta-voz da presidência, Dimitry Peskov. Desafia, pela primeira vez em duas décadas, o presidente Vladimir Putin, que tenta encontrar a saída para tirar o país da quarentena o mais rapidamente possível.

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O governo anuncia afrouxamento das restrições enquanto sobe o número de novos casos por dia: somente nesta quarta-feira, eram 8.338. Em regiões como a do Daguestão, no sul da Rússia, a situação é considerada catastrófica. Críticos dizem que o sistema de saúde do país não é capaz de assegurar o baixo índice de mortalidade relatado pelas autoridades.

Putin prometeu bônus aos profissionais de saúde que estão na linha de frente da pandemia, mas a categoria diz não ter recebido nada até agora. A lista online de médicos e enfermeiros mortos pela Covid-19 soma mais de 250 nomes. Três profissionais que denunciaram equipamentos inadequados caíram do alto de prédios, elevando ainda mais a desconfiança em relação ao governo.

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O governo russo reforça suas estatísticas e se gaba da baixa taxa de letalidade, sob o argumento de que o número é baseado em autópsias que consideram a Covid-19 apenas quando é a principal causa da morte.

Sem transparência, o método russo não convence. Cada vez mais, a condução de Putin na pandemia do novo coronavírus é comparada ao desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia em 1986, encoberto pelo então regime soviético.