Publicado às 04h10 deste domingo (27)

Há fatos que são vivenciados na infância que ficam marcados pelo resto das nossas vidas. No meu caso, tenho registros inteiros dos dias de feira livre em Serra Talhada que estão guardados bem no fundo do baú, como se fossem novidades.

Sou do tempo da feira livre em meio a Rua Enock Ignácio de Oliveira, com bancas espalhadas por ruas e calçadas, gritos dos vendedores anunciando suas promoções e tantas outras coisas.

Quando estudante, gostava de passear por entre as bancas e olhar a fisionomia das pessoas. A feira era pulsante. Era viva. E como toda feira, me fascinava seus personagens. Começo pelo Beco de Cazé onde um cego ficava no tamborete, sob o sol, com uma bacia de queijo do reino, a jogar uma moeda para cima e para baixo. Gostava de ouvir o tilintar da moeda.

No mesmo beco, aqui e acolá, tinha um violeiro fazendo versos, e quase sempre, um ébrio, por nome de ‘Bento’, sentado ao chão, cantarolava: ‘tornei-me um ébrio e na bebida busco esquecer…”

Também no Beco de Cazé, quase todos os dias, aparecia o negro ‘Badé’ todo de branco e o som compassado das suas botas.

E como não lembrar do gari ‘Resto de Brahma’, enfezado por natureza. Saindo do beco, já em meio a feira, chamava a atenção a banca de Seu Miguel do Óleo. Mas parecia um alquimista com suas porções espalhadas e um cheiro forte de óleo de pequi.

Como esquecer a banca da Dona Isaura que vendia sabonete Alma de Flores e perfume Seiva de Alfazema? Ô saudade!

E para finalizar, não posso esquecer o principal personagem das minhas memórias: o meu avô, Augusto José Duarte. Com ele aprendi a ser do bem e saber lutar contra o mal.

Nas segundas-feiras, vovô, que era proprietário do Armazém São Francisco, bem defronte ao Beco de Cazé, espalhava mercadorias no meio da rua. Panelas, sandálias, penicos, pregos, enfim, miudezas em geral, e me nomeava gerente do espaço. Trabalhava até próximo ao meio dia, e no final, recebia uma gorjeta que não demorava muita em minhas mãos, porque a sirene do Cine Art já anunciava a matinê com o filme Tarzan, o Rei das Selvas. Mas ai é uma outra história. Saudades, muitas saudades!