O encontro entre Frei Damião e Padre Jesus em ST foi marcante

Publicado às 06h12 desta terça-feira (12)

Por Luiz Ferraz Filho, pesquisador e membro da Academia Serra-talhadense de Letras

Era mês de janeiro quando adentraram pela praça principal da cidade dois capuchinhos em penitência, seguidos por uma multidão de devotos em silêncio, ouvindo suas pregações maravilhados e boquiabertos. O vigário da Penha, Padre Jesus Garcia Riano estava na zona rural, mas quando soube fustigou sua burra cardã apressadamente para recepciona-los. Subiu os degraus da matriz em construção para do alto dela visualizar melhor aqueles missionários que embrenhavam-se pelas ruas da cidade.

Um deles, o Frei Damião de Bozzano, com suas barbas grisalhas e suas humildes sandálias surradas pela poeira do Sertão, já era naqueles primórdios um célebre profeta com enorme poder de erudição. Seu companheiro Frei Fernando era risonho e corado. Um fiel coadjuvante. Estavam eles em missão encomendadas pelo bispo de Pesqueira, Dom Adelmo Machado, no intuito de estimular e preparar a população para a inauguração da Matriz de Nossa Senhora da Penha, em Serra Talhada – PE.

Obra que se arrastava por vinte e oito anos e graças ao hercúleo esforço do Padre Jesus estava terminando os últimos acabamentos para a conclusão. Ao subir o patamar da igreja, Frei Damião levantou os braços, serenou a voz e o silêncio tomou conta dos seus fiéis devotos. Falou ele sobre o Juízo Final e a maldição que recai sobre os mentirosos, adúlteros, amancebados e pecadores. E os fanáticos seguidores atentos com os olhos a lacrimejar.

No dia seguinte continuou com suas peregrinações e missões pelas capelas e igrejas dos povoados, distritos e cidades circunvizinhas. Naquele ano de 1953 comemorava-se o Jubileu do Apostolado da Oração da Matriz da Penha, obra litúrgica fundada em 08 de setembro de 1903, pelo monsenhor Afonso Pequeno. Em dois dias, os frades capuchinhos realizaram 850 crismas e 835 comunhões, conforme anotações do próprio Padre Jesus. Meses depois, em 27 de julho, segunda-feira, tornava-se um dia histórico e festivo quando Serra Talhada recepcionava o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Antônio de Almeida Junior, que surpreendentemente chegava em nossa cidade em sua primeira visita ao Sertão.

Fato inédito para uma paróquia do interior. Nunca antes havíamos presenciado uma autoridade da mais alta hierarquia religiosa. Viajou o Arcebispo em avião fretado pela Secretaria Estadual de Agricultura para conhecer as instalações da Fazenda Saco, que estava vivenciando os últimos preparativos para a Festa do Algodão, que seria realizada quinze dias depois. Como acompanhantes do Arcebispo, estavam 5 bispos das dioceses pernambucanas de Pesqueira (Dom Adelmo Cavalcante Machado) , de Caruaru (Dom Paulo Hipólito Libório) , de Petrolina (Dom Avelar Brandão Vilela) , de Garanhuns (Dom Juvêncio de Brito) e de Nazaré da Mata (Dom Carlos Gouveia Coelho). Foi o momento mais memorável da nossa história religiosa.

O querido pároco espanhol, Padre Jesus, confidenciava a todos está ele vivendo o dia mais feliz de sua vida em terras brasileiras. Naquele mesmo dia, Frei Damião encontrava-se em missão religiosa na Igreja de Nossa Senhora das Dores, no povoado de Sítio Novos (Bernardo Vieira) e foi chamado as pressas para auxiliar na recepção aos religiosos. No dia 30 de julho, uma quinta-feira, o Arcebispo Dom Antônio de Almeida Morais Junior (que naquele momento testemunhando a pujança do nosso algodão idealizou a criação da SUDENE), retornava de avião ao Recife deixando em nossa terra os bispos que preparavam-se para as cerimônias de inauguração da Matriz da Penha.

Organizou-se uma procissão que as 16h saiu da capela do Hospital Regional Agamenon Magalhães (Hospam) em direção a igreja para a realização da missa as 19h. Na sexta-feira, 31 de julho, as 5h, realizou-se uma missa no patamar da igreja em homenagem ao Dia das Mães celebrada pelo Frei Damião. Seguiu-se o dia inteiro com crismas, comunhão, missas e catecismo. As 19h, missa celebrada pelo Bispo Diocesano de Pesqueira, Dom Adelmo Machado. No sábado, dia 01 de agosto, novamente a alvorada com missa celebrada pelo Frei Damião. Em seguida dirigiram-se a Escola São Vicente de Paulo (posteriormente incorporada a Escola Normal Imaculada Conceição) para um café da manhã.

No período da tarde, homenagens a venerável Ordem Terceira de São Francisco, Associação de São José e a Pia União Filhas de Maria. As 19h, um brilhante ato ecumênico na Matriz da Penha com recitais das professoras Stela Godoy, Zuleide Vieira e Francisca Godoy e um breve histórico do Apostolado da Oração conferenciado pelo professor Aderbal Mendonça. A celebração ficou a prócer do querido bispo Dom Adelmo Machado. A meia noite, concentração de devotos com luminárias na Praça do Rosário com procissão em destino ao patamar da Matriz da Penha. No dia seguinte, 02 de agosto, o amanhecer iniciou com a alvorada de sinos e a participação da Filarmônica Vilabelense.

Depois a solene pontificial ‘De Angelus’ cantada pelos fiéis sob celebração do Frei João Batista Vilar, diretor diocesano do Apostolado. As 12h, banquete com almoço para as autoridades presentes no Grande Hotel Municipal tendo como orador oficial o médico Dr. José Cordeiro Lima e o prefeito de Serra Talhada, Moacyr Godoy Diniz. As 16h, procissão de encerramento com a imagem do Sagrado Coração de Jesus sob regência do vigário local, Padre Jesus Garcia Riano. Ao chegar no patamar da igreja, missa e benção do Bispo Diocesano.

Realizaram 134 primeiras comunhões, 2164 crismas e 5500 comunhões em geral. Estava inaugurada a nossa querida terceira Matriz da Penha. E hoje, 08 de setembro, dia da nossa tradicional procissão da Penha, também comemoramos os 120 anos do Apostolado da Oração em Serra Talhada. Nossa Senhora, rogai por nós. Sagrado Coração de Jesus, eu confio em vós.