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CRÔNICA DE DOMIGO

O fogo na serra e os poderes das rezas de Seu Quinca

Ananias Solon - Foto: Arquivo Pessoal
Ananias Solon – Foto: Arquivo Pessoal

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Por Ananias Solon, Zootecnista, escritor e historiador

O caso eu conto como aconteceu.

Em mais uma das histórias cabeludas do saudoso Antonio Quilete. No ano de 1932, O Nordeste foi severamente castigado com um longo período de estiagem, causando diversos danos a natureza; como a fome, a morte de pessoas, de animais, incêndios…

Nessa época as condições eram precárias, a tecnologia ainda engatinhava, os transportes eram feitos em carro de boi, e em lombo de animais, não existia Corpo de Bombeiros nem energia elétrica, os partos eram feitos nas residências com as parteiras.

Os utensílios domésticos eram confeccionados nas fazendas. Tás com arreios e tudo que formava a Fazenda, inclusive as construções de casas, os currais, as cancelas, eram feitos com a madeira da mata nativa, não existia arame farpado.

Os currais e as cercas eram feitas de morões e varas, tipo faxina, nas áreas grandes, como as mangas e travessões eram cerca de varas deitadas, abrangendo grandes áreas, tendo cercas com até uma légua de comprimento.

Em um certo dia no cume daquela terrível seca que assolava o sertão, na localidade Ramalhete, divisas com as terras da Serra Verde, no pingo do meio dia, o sol escaldante, avistou-se uma torre de fumaça na aba da Serra do Arapuá no sentido da Serra Verde.

Foi então que o Senhor Marçal Jacó e seus filhos correram para ver o que tinha acontecido, então se depararam com um incêndio que ia se alastrando na mata seca, pegando na cerca do travessão, que tinha uma légua de comprimento.

Seu Marçal ficou apavorado, sem saber o que fazer, lembrou de seu Quinca, que era um senhor fazendeiro, dotado de sabedoria e muita fé.

Era conhecido na região como Salvador das causas difíceis, salvando as vidas de muitas gentes e animais acometidos de picadas de cobras, curando assim a todos que procuravam.

De imediato, seu Marçal mandou seu filho montado a cavalo, pedir para Seu Quinca rezar para atalhar o incêndio que se alastrava ferozmente no sentido da Serra Verde, já entrando no travessão que fazia as extremidades das fazendas, o rapaz saiu em disparada numa carreira só, com a recomendação para seu Quinca fazer uma reza (fortíssima), que o fogo estava acabando com tudo.

Ao chegar na Fazenda de seu Quinca, percorrendo uma légua de distância, seu Quinca foi logo dizendo: ‘você vem avexado, foi fogo? Foi seu Quinca, e grande! Seu Pai disse se a reza era pra ser forte ou (fortíssima?) Pai disse que fizesse uma reza (fortíssima) que a cerca do travessão já queimou 500 braças’.

“Tá dado o recado, vá simbora que quando chegar lá, não tem mais fogo, e diga a seu pai que coisa adversa, estou a disposição”, disparou Seu Quinca.

Ao chegar na metade do travessão, já a boca da noite, encontrou com seu pai Marçal, em estado de tristeza verificando a devastação causada pelo fogo, e já escurecendo voltou para casa, encontrando a família na maior agonía tentando acender os candeeiros e o fogão a lenha.

Já estavam exaustas de tanto pelejar e o fogo nada de pegar, já no escuro, já tinha gastado todo maço de fósforo e a pedra do matricó. Entrou a noite, o silêncio no mundo, só sentia o cheiro de fumaça!

Foi então que seu Marçal, em estado pesaroso, entendeu o poder da reza, e mandou seu filho naquela hora da noite, o recado para seu Quinca desfazer a reza. Recado dado, reza desfeita, candeeiro aceso, lenha queimada, comida na mesa.

Moral da história; não devemos brincar com fogo e nem com reza.

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1 comentário em O fogo na serra e os poderes das rezas de Seu Quinca

SORMANY PEREIRA DE MAGALHAES
Recordar é viver, muito bem meu irmão so vc para compartilhar uma história de muitas que vivemos no sertão Pernambuco, lembro de mais do saudoso Pai Quinca, meu avô e fazendeiro como foi mensionado no enredo, hoje temos ferramentas com tecnologia avançada para combater eventos com incêndio para preservar nossa natureza.

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