Com o intuito de fazer refletir e mobilizar a sociedade em defesa de um futuro melhor para crianças e adolescentes, o 15 de abril é lembrado como o Dia do Desarmamento Infantil. Nesta data, em várias partes do país, ocorrem eventos em defesa da integridade da infância.  É preciso reafirmar sempre: lugar de criança é na escola e, a única arma para se vencer na vida, é a educação.  

Neste sentido, na busca por garimpar histórias de pessoas que lutaram pelo desarmamento infantil em Serra Talhada, o FAROL DE NOTÍCIAS encontrou o professor aposentado Laércio Pulça, de 70 anos. Ele foi diretor da Escola Cornélio Soares na década de 70 e conta que, na época, o cenário era preocupante, devido o trânsito frequente de estudantes no colégio com armas de fogo. “Naquele tempo tinha muita briga de família e estudantes vinham com revólveres na cintura. A situação era delicada demais”, recorda o educador, que atuou por 40 anos nesta função.   

 
 

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CORAGEM: Professor enfrentou a ousadia de alunos armados no Cornélio Soares

O cargo ocupado por Laércio requeria uma postura austera diante dos alunos, pois o clima de tensão havia tomado conta da escola. Vivia-se o perigo iminente de um troca de tiros.  “Ainda me lembro bem, foi em uma noite de segunda-feira, em 1970. Apreenderam mais de 20 armas com os estudantes. Antes de acontecer uma desgraça solicitei urgente a ação policial porque o Diretor de Disciplina, professor Nogueira, tinha esgotado o diálogo. A violência ia assumir tudo”, contou.   

Do tempo que o professor atuou no Cornélio Soares até os dias de hoje, transcorreram cerca de 40 anos. De lá para cá, caiu a ditadura, foi extinto o cargo de diretor de disciplina, Laércio aposentou-se mas o quadro crítico continua. Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), afirma que, em 2005, no Brasil, cerca de 200 mil crianças e jovens já pegaram em armas de fogo. O dado mais preocupante é que o acesso aos armamentos, diz o relatório, ocorreu dentro de escolas públicas e privadas do país.  

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“É preciso haver uma mudança de postura da sociedade, para sairmos de uma cultura de violência para uma cultura de paz. Se formos observar, as fábricas de brinquedos investem milhões para produzir bonecos de guerra, armados com facas e canhões. A mídia cada vez mais investe em conteúdos de violência, seja através de filmes ou desenhos”, analisa a assistente social, Ana Carolina Lira. “Ou seja, a ideia de brutalidade é passada como se fosse uma premissa para se socializar”, completa.  

MASSACRE  

Casos como o massacre de Realengo são motivos de indignação e alertam a sociedade para uma antiga discussão: a criação de um novo plebiscito para debater a venda de armas no país. Seu Laércio Pulça já tem sua opinião. “Eu defendo também a volta da função do diretor de disciplina.” Diferente do homem austero que alguns alunos um dia puderam pensar, ele não contém as lágrimas ao falar sobre a tragédia no Rio de Janeiro. Tal qual o sargento que conseguiu evitar a morte de um maior número de crianças e jovens, trocando tiros com o assassino, Laércio Pulça, em Serra Talhada, também evitou o pior. “A minha surpresa foi a ingerência de políticos no assunto. Depois do fato, recebi a visita, em minha casa, de dois vereadores pedindo a liberação das armas dos alunos”, contou. “Mas elas já estavam no ácido muriático e eles saíram revoltados. O poder da decisão prevaleceu. Cessou a causa e cessou o efeito. Deus foi fiel.”  

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde, os dados divulgados pelo Mapa da Violência 2010, feito com base nas certidões de óbito de todo o país registradas em 2007, colocam o Brasil num quadro de epidemia de violência. A pesquisa foi feita com jovens a partir dos 14 anos, e diagnosticou que nesta faixa etária morrem 9,4 meninos entre 100 mil.