O “Viagem ao Passado” deste domingo resgata detalhes de uma das mais controversas passagens da história contemporânea de Serra Talhada, “o plebiscito da estátua de Lampião”. O debate que se travou há 30 anos teve como ápice o dia 07 de setembro de 1991, quando naquela data 76% dos serra-talhadenses votaram favorável da construção da estatua, 22% foram contra e 0,8 % anularam o voto.
Apesar da consulta popular ter sido promovida pela Fundação Cultural da Casa da Cultura, a ideia da construção do monumento não partiu da entidade, mas do ex-vereador (já falecido) Expedito Eliodoro, o popular Louro Eliodoro, que no dia 28 de maio de 1985, concedeu entrevista ao Diário de Pernambuco, expondo o seu projeto de construir uma estátua de Lampião, com 20 metros de altura, na antiga Estação Ferroviária. Por falta de apoio a iniciativa acabou não vingando, apesar disso, o vereador Louro Eliodoro não desistiu de promover culturalmente a relação de Lampião com a sua cidade natal e em setembro de 1988 (Diário de Pernambuco, dia 27 de setembro de 1988) ele encomendou ao artista plástico Juraci Jusseé, esculturas dos cangaceiros. Essas verdadeiras obras de artes ainda hoje se encontram preservadas e protegidas na Casa da Cultura de Serra Talhada.
Porém, em 1991 que o assunto retornou ao noticiário. Só que desta vez o projeto para construção da estatua foi incorporado à ideia de um plebiscito, o que culminou um acalorado debate que extrapolou os limites territoriais de Serra Talhada e invadiu literalmente as residências de brasileiros de norte a sul. O que ocorreu naquele ano não foi tão somente a promoção de um evento cultural ou uma disputa entre diferentes narrativas sobre Lampião e o cangaço. A verdade é que a partir daquele momento se estabeleceu uma nova perspectiva histórica. Naquele instante a história estava sendo escrita pelos protagonistas do processo, mesmo que o elemento central desse processo tinha sido “um cangaceiro”, a vontade popular foi expressa na sua integralidade.
Diferentes órgãos de imprensa registram o episódio, entre eles, a revista Veja e o Jornal do Brasil. O JB publicou uma extensa matéria, tendo com destaque o produtor cultural, pesquisador e atual presidente da Fundação Cultural de Serra Talhada, Anildomá Souza. Na publicação, Anildomá incorporou um legítimo cangaceiro, tendo ao lado um letreiro com a frase que se tornou um símbolo daquela passagem histórico: Nem herói, nem bandido! É história! Diga SIM a Lampião!
Somente em 2019 foram inauguradas as esculturas de Lampião, Maria Bonita e Zabelê, na área externa do Museu do Cangaço, na Estação do Forró. A iniciativa de instalação das obras de arte partiu da Fundação Cultural Cabras de Lampião (FCCL), presidida pela atriz e produtora cultural Cleonice Maria. O projeto idealizado por Cleonice materializou o desejo de todos os que disseram “SIM” a Lampião em 07 de setembro de 1991.
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