Paulo César

Por Paulo Cesar Gomes, professor, escritor e colunista do Farol

O processo de impeachment que foi admitido pelo Senado Federal nessa quinta-feira (12), nos leva a fazer várias reflexões, muitas das quais estão no centro do debate que será travado por várias gerações. Diante de um fato de tão grave violência política, já que a retirada de um presidente por esse mecanismo é algo inédito no país, isso porque, no processo do ex-presidente Collor existia um consenso na sociedade.

Desta vez não. Desta vez, o país se dividiu, entre as elites que dominam a Avenida Paulista e os trabalhadores de diversas categorias. Juristas, pensadores, artistas, movimentos sociais, travaram um debate que ainda vai se arrastar pelas próximas décadas. Palavras como golpe, traição, injustiça, corrupção e crise econômica dominarão os nossos livros de História do Brasil quando se referirem a esse momento, já que quem sai deixa o seu recado, e quem entra, apenas aproveita que a porta se abriu, sem que para isso tenha antes se apresentado ao povo.

O dia de hoje não encerra o ciclo, apenas nos leva analisar o que de fato podemos esperar da classe política brasileira, ou melhor, dos políticos brasileiros. Na minha modesta opinião, o sistema presidencialista brasileiro chegou ao fim na manhã de hoje. Pois ficou provado que para ser ter governabilidade é preciso ter o controle do Congresso Nacional. Sem ele, não existe governo. Dilma não foi afastada pelas pedaladas fiscais e pelos decretos suplementares, que por sinal não estão ainda tipificados no sistema jurídico nacional. Ela caiu porque perdeu o apoio dos congressistas.

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É preciso que se diga que para que um presidente governe o Brasil, ele tem que antes negociar com os partidos políticos a sua base de apoio, trocando cargos públicos por votos na Câmara e no Senado. Uma prática que também é corriqueira em governos estaduais e municipais. Esse método já vem sendo usado por todos os governos que vieram no pós – Ditadura Militar (Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma) e agora se esgotou. Não existe governo de coalizão que funcione em plenitude com esse moldes, com o tempo ele se vicia e se exauri. O que existe de verdade são governos que rateiam um pseudo poder.

Os episódios que vivemos hoje se devem em grande parte ao PT, porque negou as suas bandeiras; e a direita conservadora do país, que não aceitou as sucessivas derrotas eleitorais e a ver as transformações sociais em processo evolutivo. Isso não é um discurso, é um debate histórico e sociológico. Também é preciso dizer que ainda é cedo para se decretar o fim do ciclo de poder do PT. Até porque, é preciso ver na prática o que “os legítimos defensores da ética” têm para apresentar a nação. Caso fracassem, o PT inevitavelmente voltará ao poder, a não ser, que uma proposta alternativa de gestão surja em meio a essa polarização.

O certo é que se faz necessária um reforma política com urgência. Que o debate sobre a implantação do sistema parlamentarista retorne a cena política. E que se façam eleições gerais ainda esse ano. Pois, o governo Temer começa com grande rejeição social e política, e com forte tendência a se perder no meio do caminho.

Um forte a abraço e até a próxima!