Gootemberg Mangueira é professor

A escola privada de hoje tem um modelo semelhante ao da escola pública da década de 1970,(no que se refere a vários aspectos e principalmente ao disciplinar). Nada a ver com a ditadura militar que foi horrível), quando governos não tinham a obrigação de financiar a educação do povo. Ela era para uma minoria. Para aqueles que tinham um bom poder aquisitivo. Estudar se constituía um artigo de luxo e, portanto, mais valorizado pela a maioria dos alunos.

A Constituição Brasileira de 1988 mudou isso e a educação passou a ser um direito do cidadão e uma responsabilidade da família e do Estado. Portanto, se a família não matricular a criança na escola,  corre o risco de responder na justiça pela não observância da lei. Quanto ao Estado, cabe a tarefa de assegurar as vagas nas escolas para todas as crianças e adolescentes.

Sabemos que nossos impostos sustentam financeiramente o sistema atual, mas a maioria dos pais e/ou responsáveis pelos alunos não têm essa consciência de que o governo não dá nada a ninguém. Talvez essa desinformação tenha gerado um relaxamento na família com relação  à vida escolar dos seus filhos. Muitos pais aparecem na escola só no final do ano para saber se o filho foi aprovado ou reprovado. Já na escola particular onde o pai tem que meter a mão no bolso para pagar matrícula, mensalidade, farda, livros, cadernos e outras despesas, a preocupação da família no que se refere ao comportamento do aluno, é bem mais frequente.

Muitas vezes, os pais matriculam seu filho na escola publica e ele  simplesmente desviasse do verdadeiro propósito que é o de estudar e vai à instituição desrespeitar professor, colegas, utilizar abusivamente celular na sala aula e ainda demonstrar total negligência para como o seu futuro.  É o mesmo que comprar um produto e não levar. Lembrei-me da música de Fala Mansa que diz: “tenho tudo nas mãos e não tenho nada. É melhor não ter nada e lutar pelo que eu quiser”.

Quando havia mais rigor nas escolas públicas, os alunos se viam obrigados a estudar. Do contrário, seriam reprovados. O sistema educacional vigente vem colaborando para a desmoralização do ensino público, provocando toda essa entropia educacional que estamos presenciando. Basta lembrar que o aluno  não precisa estudar para ser aprovado no final do ano, pois isso o governo já lhe assegura através da repreensão aos professores que  não compactuarem com essa irresponsabilidade. Qual é o professor da escola pública que passa o filho dos outros sem saberem de nada, deseja ver seu filho sendo “premiado” com nota sem adquirir conhecimento?

A verdade é que o problema já começa lá no ensino fundamental I. Em recente pesquisa, divulgada pelo Jornal do Commercio, constatou-se que quase 80% dos alunos do 3º ano, não sabem ler e em matemática, apenas 19% dos estudantes conseguem resolver contas básicas.E o tal o empurra pra frente. Não importa se aprendeu ou não. A minha preocupação é que o Estado não está nem aí pra isso”.

Em 1970, vivia-se um período trágico da nossa história conhecida como Ditadura Militar (1964 a 1984) e ao pé da letra, a educação pública não era boa porque o governo controlava as instituições educacionais e os conteúdos dados em sala de aula eram constantemente monitorados, ou seja, liberdade para falar das falcatruas do governo, não se tinha. Então o aluno ficava meio que alienado do ponto de vista político (muitos se rebelavam contra esse “cárcere”).

A escola funcionava como um aparelho ideológico do Estado, como dizia o filósofo Frances de origem argelina Louis Pierre Althusser. Na imprensa, quase tudo foi censurado. Porém, a ditadura era externa, vinha de fora pra dentro. Hoje há uma ditadura silenciosa dentro das escolas oprimindo professor. Daquela época, eu queria a  disciplina do aluno ( talvez não tenha sido lá essas coisas, mas não era pior do que a de hoje) o respeito que ele tinha ao professor, a presença da família na escola e a aprovação daqueles que realmente estudam. Somente isso, o resto não me interessa.

O tratamento que a ditadura dava à educação não se pode mais admitir nos dias atuais. Seja vindo de fora ou de dentro do sistema educacional. Esse cheiro pútrido do totalitarismo que paira sobre nossas cabeças, recrudesce a cada dia que passa, e a na mesma velocidade que isso ocorre, o nosso trabalho se imbeliciliza. Espero que as mudanças que estão ocorrendo no Brasil chegue à educação de maneira efetiva, verdadeira, sem as mentirinhas que estamos acostumados a ouvir. Que o nosso prefeito, o governador Eduardo Campos e a presidenta Dilma escutem muito bem a voz indignada de um povo que não suporta mais desmandos políticos.