Por Goottembergue Mangueira, ex-diretor da Escola Antonio Timóteo em Serra Talhada

familiaÉ notório que a sociedade brasileira está em decadência, no que diz respeito ao comportamento cultural, ético e moral, principalmente das nossas crianças e adolescentes. Parece que tudo despencou de um lugar bem alto e se desintegrou.

Ao olharmos para trás, fazendo um paralelo entre o conjunto de atitudes sociais das crianças de classe média baixa que faziam seus próprios brinquedos, que brincavam de bola de gude, de cavalo de pau, amarelinha, pião etc. e as das crianças de hoje, com igual situação econômica, porém com influência da cibernética, que se “escondem” nos quartos de suas casas ( ou em outro lugar) para curtirem suas tecnologias (play station, internet e conversas em celulares) conectando-se com o mundo ( e às vezes fora dele) e desconectando-se dos seus pais, nos deparamos com uma enorme diferença de concepções sobre os valores da família: a primeira respeitava os valores e a segunda, de modo geral, despreza.

A verdade é que o comportamento desrespeitoso, indisciplinado (não apenas na forma de agir, mas também de falar) de muitas crianças não acontece por acaso. Os adultos têm sua parcela de culpa nisso, quando não instituem ambientes propícios para que elas (crianças) cresçam moralmente saudáveis.

As crianças às quais as liberdades são dadas a elas sem limites, fazendo-as se sentirem donas de si e que convivem com pessoas que não se respeitam que proferem palavras de baixo calão e levam a vida a falar mal dos outros, certamente a sua formação moral será deplorável. E para piorar a situação, vem a mídia televisiva cheia de programas nada educativos (com raríssimas exceções têm alguns que prestam), e muitos pais permitem que seus filhos assistam e aprendam toda aquela baboseira (elas passam em média seis horas em frente à tv, na net ou mexendo num celular e quatro na escola), incluindo na lista, desenhos “desanimados” que são na sua maioria, violentos, longe daquela ingenuidade que havia.

As músicas que preferem ouvir nos seus smartfhones, ifhones, ipads e celulares, presenteados pelos seus pais, não são aquelas que contêm letras instrutivas que ajudam na sua formação educacional, mas as que as estimulam à desobediência, à irresponsabilidade e à ausência de compromisso com o seu futuro. Além de conterem palavrões e duplos sentidos ( que na verdade tem um sentido só: ridicularizar algo ou alguém) a música Lepo Lepo dos compositores Felipe e Magno, não é algo que se indique para uma criança ouvir, mas caiu nas graças do povão e foi sucesso no carnaval deste ano.

Essa é uma prova de que está havendo um desarranjo cultural sem precedentes em nossa sociedade. Os meninos e meninas de hoje ( não são todos, claro) estão moldando o seu caráter pelo que veem na mídia. Acabou-se o tempo em que a família com o auxílio das religiões (cultura ocidental) e da escola tinham um certo “controle” sobre o comportamento das crianças e adolescentes, ajudando-as assim, a trilharem caminhos melhores, menos dolorosos em suas vidas.

Era a chamada educação doméstica que foi engolida por um modelo de educação em que valores econômicos valem mais do que valores morais. O que o pai e a mãe diziam ( principalmente o pai) era soberano e ai de quem os contrariasse. O “coro comia” e ninguém cresceu traumatizado por causa disso. É claro que os tempos são outros. E as vicissitudes sociais são muitas e inevitáveis.

É preciso que saibamos lidar com essas mudanças. Hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente- criado em 1990- via Conselho Tutelar, está aí para respaldar a punição aos pais que pelo menos derem umas “palmadas” (ainda que não machuque), nos seus filhos. Tudo tem que ser na base do diálogo que, aliás, não vem dando os resultados que se esperavam. Há um consenso social ( fundamentado na psicologia e no cotidiano familiar) de que bater não resolve, pois deixa mágoas, ressentimentos, além de outros malefícios; mas também é uma realidade que crianças e adolescentes estão cada vez mais rebeldes, “cheios de direitos” e mais distantes dos seus deveres.

Se há diálogo, há, sem dúvidas, uma enorme deficiência nesse diálogo. E isso precisa ser corrigido.  Na masmorra escura das redes sociais, lugar onde crianças e adolescente “passeiam” livremente, olhando e ouvindo coisas que não são permitidas para suas idades, veiculam-se cenas de sexo, desrespeito ao ser humano, incitação à violência, e as mais diversas formas de “imoralidades” que acabam se transformando em coisas comuns, na concepção delas, deixando os seus pais perplexos e assustados diante de uma liberdade que para eles (pais) é um pesadelo atravessado no processo educativo dos seus filhos que deveriam, segundo psicólogo Renato Miranda, ao invés do mundo virtual, optarem pela experimentação de tudo aquilo que é concreto, como por exemplo: formas variadas de movimento e experimentação de emoções em relação ao outro por meio do convívio – e o esporte é um excelente meio para isso.

Se não for possível para a família, afastar seus filhos dos vícios da internet, é preciso, ao menos, prestar bem atenção ao que eles estão vendo, ouvindo e falando nos sites de relacionamento ( o que não será tarefa fácil) para que mais tarde não tenha que remediar algum mal que poderia ter evitado. A internet é uma ferramenta importante para pesquisa, aquisição do conhecimento e diversão; mas deve-se evitar que crianças e adolescentes naveguem à vontade nesse território cheio de armadilhas. Nenhum dos valores citados no início do primeiro parágrafo sobreviveu. Perderam-se na obscuridade dos vícios morais, da ostentação e do consumismo que invadiram as mentes dos adultos bregopatas metidos a moderninhos e amarraram as suas vidas à futilidade e, por conseguinte, ao retrocesso cultural, transformando-os em legítimos “militontos” da insuficiência intelectual da sociedade.