DúvidasEmmanuelle Silva é estudante de Letras na Uast/UFRPE e estagiária no Farol de Notícias

Pensar a universidade a partir do que lhe falta, parece bem mais simples do que pensá-la por suas beneficies à sociedade. Realmente, só parece. Os dois pontos de partida sugerem complexas discussões que estão em pauta desde o seu surgimento, e permanecerão enquanto essa entidade existir. A academia, assim como as demais instituições, é ideologicamente tendenciosa, e é essa a nossa preocupação. Partindo dos sujeitos que lhe constitui, a construção de conhecimentos se dá nos âmbitos teóricos, socioeconômicos, políticos e culturais que são partilhados pelos que integram essa comunidade, assim como é administrado por outros sujeitos que regulam as burocráticas interações sociais nesse espaço.

Para sermos mais pragmáticos, estamos querendo tratar das relações entre diretores/diretoras, técnicos/técnicas administrativas, professores/professoras e alunos/alunas, como todos estes são responsáveis pela vivência universitária dentro e fora das salas de aula, e finalmente como todos devemos refletir as ideologias que perpassam os discursos desses sujeitos. Chegamos, então, a um questionamento norteador: a universidade por ser um espaço de construção de conhecimentos está menos propícia a disseminação de preconceitos? E a nossa resposta, mesmo correndo o risco de expressar um juízo de valor, é não. Nem a universidade, e nenhum outro espaço social, nenhum homem ou mulher está imune ao preconceito, à diferença está na forma com a qual lidamos com ele para não afetar os direitos dos outros.

Tomando como base algumas questões específicas da UFRPE-UAST, poderíamos citar inúmeras problemáticas que precisam de espaço para discussão e ações político/acadêmicas para solucioná-las. Não obstante, sequer chegamos ao estado da abertura de diálogo com toda a comunidade. Ora pelo campus não motivar constantemente a postura de debates sociais, salvo exceções, ora pelo desinteresse e da comunidade por temas que estão além da sala de aula.

As consequências dessa falta de engajamento político vêm de forma coletiva como um espírito incitado por todos, que é o acobertamento do racismo institucional, a insuficiência de políticas de assistência estudantil, a falta de políticas para as mulheres, o sucateamento de equipamentos de permanência e vivência no campus e o escanteamento de núcleos, grupos e entidades que debatem gênero, sexualidade, saúde, relações étnicorraciais, política, cultura etc. que não se relacionam, especificamente, às ementas dos cursos e suas disciplinas.

Percebemos, logicamente, que individualidades sempre surgem, somam-se umas as outras, em trabalhos de formiguinha tentam combater as causas e efeitos dessa desmobilização política da Uast. Grupos isolados que precisam se unir em montantes para dar a esta unidade o caráter de universidade pública, de formação cultural, de formação política, de entidade educativa de formação cidadã consciente, reflexiva e combativa aos diversos tipos de preconceitos e mazelas sociais. Em contra partida, há também outros grupos que querem compartilhar suas ideologias, mesmo que elas não se adequem a um pensamento multicultural, que contemple a diversidade sexual, de gênero, étnico-racial, religiosa, política, regional etc. Isso pode ser preocupante, quando o pensamento de um grupo pode extinguir e estigmatizar as necessidades do outro.

No fim da graduação, depois de muitos tabus quebrados, muitos preconceitos desfeitos, muito senso-comum ultrapassado, muita reflexão, os alunos expandem a visão para essas questões, ou não, nem todas as mentes estão abertas a ressignificar certos valores. Porém, seria bem mais interessante que as discussões em sala de aula e fora dela, na universidade, atentassem sempre que possível para o combate ao racismo, ao machismo, ao sexismo, à homofobia, à lesbofobia, à bifobia, à transfobia, à intolerância religiosa, ao classismo, à xenofobia, ao preconceito contra idosos, deficientes, etc. Que os discursos daqueles que nos formam, que nos dirigem, que nos administram e nós estudantes que levamos o conhecimento acadêmico para além das paredes da academia sejamos sempre cuidadosos e combativos à disseminação de preconceitos.