saudade1[1]Por Adelmo José dos Santos, escritor e poeta serratalhadense

Durante essas 225 festas de setembro tanta coisa já mudou, mudou a festa e as pessoas e os brinquedos também, mas o parque não mudou continua sempre o mesmo. A população cresceu, a praça ficou pequena não comporta mais a festa, hoje não cabe ninguém. Toda vez que eu vejo o Parque Lima eu volto a ser novamente um menino.

Eu relembro a minha vida, minha infância e a minha história. Foram tantas emoções, eu recordo como agora das gerações que passaram pelos brinquedos do parque. Desde os tempos de menino até eu ficar idoso, eu não lembro em minha vida de nas festas de setembro, aqui em Serra Talhada, tenha vindo outro parque. Até parece uma sina, em toda festa de setembro sempre vem o Parque Lima.

Nos anos 60 a festa de setembro era a maior alegria, o dia 7 era o dia que as pessoas ficavam na praça indo pra cima e pra baixo, mostrando as roupas novas. Uma coisa era certa, todo mundo sabia quando uma pessoa estava usando uma roupa nova e ficavam comentando. A festa mostrava as modas, cada tempo um figurino: Cabelo big camaleão, camisa volta ao mundo, calça boca de sino com uma fivela  grande no cinto e o sapato era cavalo de aço. Isso era uma das modas que havia no passado.

Eu descia a Rua Grande me sentindo na estica, ficava olhando as meninas procurando a mais bonita. Não podia namorar por não ter nenhum tostão pra pagar para as meninas uma garrafinha com pão. As pessoas se esbarravam ficando olhando pra trás, passando as mãos na sua roupa procurando ver se os vínculos continuavam iguais.

Quando eu chegava da escola, abria o guarda-roupa só pra ver a minha roupa nova. A minha domingueira única já se encontrava surrada, começava a aparecer alguns remendos na bunda. Quando eu chegava no parque eu ficava espiando, vendo os meninos brincando em cada rosto um sorriso, e eu do lado de fora sem dinheiro pra brincar pois estava sempre liso. Quando a festa terminava o parque era desmontado e eu ficava sem brincar por não ter nenhum trocado, só via a roda gigante indo pra cima e pra baixo.

Mesmo sem brincar no parque, me divertia um pouco, com os bigus que pegava nas alegrias dos outros. Nos meus tempos de infância o meu encanto era esse parque, quando o parque ia embora levava em sua bagagem um pouco da minha história, junto com a da cidade, deixando em minhas lembranças um bocado de saudades.

Eu já cheguei aos 60 me sentindo um novo idoso, mas quando eu vejo o Parque Lima, eu sou criança de novo. Eu fico vendo os cavalinhos com as emoções do passado, era só um friozinho indo até o coração. Hoje é tudo diferente com os brinquedos nas alturas parecendo um furacão. Eu agora estou pensando, depois dos 60 anos eu não sou mais um menino, só vou ficar assistindo controlando as emoções, vendo de baixo pra cima sem tirar meus pés do chão. Quando eu vejo o Parque Lima reencontro a minha história, no começo foi difícil, mas está melhor agora. Já tive pressas demais, agora estou devagar, vou curtindo a minha vida deixando ela me levar.