gilvan

Por Gilvan Magalhães, cientista político com especialidade em Sociologia e Antropologia pela UFPE

Sempre que chega o dia 8 de Março, nós, machistas, elogiamos o lado “abstrato” das fêmeas, sua delicadeza, sua capacidade de perdão sua coragem, em textos de hipocrisia paternalista, como se falássemos de pobres, de crianças.

Socialmente elas são discriminadas no trabalho, ganham menos que os homens, sofrem assédio nos empregos. As mulheres foram e são oprimidas e estupradas na alma e no corpo, inclusive no Brasil.

Várias amigas me pediram: “Escreve, escreve sobre a Mulher!…”

O que iguala uma pobre mulher castrada no Iraque a uma gostosa da televisão? O que as unifica é nosso ódio, sim, o ódio secreto dos homens na história milenar do machismo.

Elas são oprimidas por serem mais fracas, elas provocam inquietação com sua beleza cambiante, elas instilam dúvidas nos homens que só desejam as certezas, elas são o perigo para o sofrimento de cornos milenares, elas nos desorganizam e nos levam à submissão pelo amor e pelo tesão.

Elas ventam, chovem, sangram, elas têm inverno, verão, TPMs, raiam de manhã ou brilham à noite. E os homens olham perplexos. Elas querem ser decifradas por nós, mas nunca acertamos no alvo, pois não há alvo, nem mosca.

As mulheres são sempre várias. Isso não as faz “mobiles” nem traidoras; nós é que nos achamos “unos”.

Mas não é como vítimas que devemos lamentá-las ou louvá-las. Sua importância é afirmativa, pois elas estão muito mais próximas que nós da realidade deste mundo aberto, sem futuro ou significado.

Elas não caminham em busca de um “sentido” único, de um poder brutal. O homem se crê acima do mistério, mas as mulheres estão dentro. São impalpáveis como a realidade que o homem “pensa” que controla.

O Dia Internacional da Mulher devia estimular uma ação política das mulheres, não apenas para defender seus direitos, mas para condenar a civilização de machos boçais que destroem seu destino.