Por Gootemberg Mangueira, professor

Na batuta da globalização e do pós-modernismo, as sociedades do mundo todo, a cada dia que passa, vêm deixando para trás os seus valores éticos, morais e culturais que os seus antepassados construíram com tanto amor e sacrifício.

As pequenas coisas que nos deixavam felizes, hoje não existem mais. E o pior é que estamos anestesiados diante de tudo isso. Não estou condenando a modernização da sociedade, nem o avanço tecnológico. Não seria ignorante a esse ponto. O que não pode acontecer é a robotização do homem, o engessamento da sua capacidade de pensar, de ser livre, de sentir emoção, de chorar nas simples conquistas, de se indignar com as injustiças sociais, com as balbúrdias dos nossos políticos.

Vejam bem: O povo vende aos candidatos um cargo eletivo e consequentemente não pode cobrar deles, a justiça existe em alguns lugares e outros não. Quase sempre não existe no terreno da pobreza que é desamparado em tudo. Os índices de pedofilia e gravidez na adolescência aumenta desenfreadamente, os jovens estão consumindo álcool cada vez mais cedo e o interesse pela escola está cada vez mais distante.

Em virtude disses e de outros descaminhos sociais, a humanidade segue desconstruindo a sua história e consolidando o determinismo daqueles que fazem do poder uma doutrina e da capacidade de escravizar, um prazer. O jornalista Anselmo Alves, sertanejo serra-talhadense, discorrendo sobre o “estelionato poético e o esvaziamento cultural” que vêm acontecendo no sertão, diz: “quero meu sertão de volta”. Eu vou mais além e digo: quero meu mundo de volta.

A posse da entropia cultural, o recrudescimento da ignorância e o comportamento “patológico” do homem na busca pela eficácia econômica, se inscrevem nesse contexto como bases de sustentação do pós-modernismo, dando impulso à “emancipação do vulgar” e às intermináveis situações de escravismo e alienação social, nos guiando para o “inferno de Dante,” nos levando para um caminho de incertezas e sem volta. E a educação da escola? O que faz diante da macroestrutura da mídia?

Será que tem forças para competir com o lixo cultural que ela (a mídia ruim) nos impõe a cada minuto das 24 horas do dia, deseducando nossas crianças e adolescentes, bombardeando-as com aquelas “musiquetas” de bregorró, sem uma letra que os ajude na sua formação cultural ou ideológica? E o que dizer dos programas de rádio e televisão? Até os desenhos animados nos desanimam com cenas de violência e atitudes éticas e socialmente reprováveis dos seus personagens. Um péssimo exemplo para nossas crianças que já não querem mais ouvir os conselhos dos seus pais, preferem se reger pelos seus anseios respaldados na desordem moral do chamado mundo moderno.

É preciso que os pais tenham cuidado para não se transformarem em reféns da vontade de seus filhos que a todo instante estão em busca de justificativas “morais” para comportamentos imorais. Dizer um simples “não ou sim” a eles pode se transformar num grande dilema em função do medo de errar na decisão, visto que o conceito de acertar ou errar, nesse contexto, está cada vez mais complexo. Se Paulo Freire estivesse vivo, ele iria lamentar muito esse aliciamento da nossa juventude pela doutrina da imbecilidade e da alienação. Freire lutou por uma sociedade letrada e mais consciente e o que se vê é esse besteirol violentando nossa cultura.