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Atualizado às 09h07 desta quinta-feira (17)

Por Emmanuelle Silva, repórter e redatora do Farol de Notícias

Certa vez me perguntaram o porquê de tantas pessoas se engajarem em causas que lhe pareciam alheias, como por exemplo, o feminismo que hoje apresenta muitos vieses e um aspecto transversal, tratando de diversos temas que envolvem a igualdade de gênero. E hoje me deparo com situações que tornariam muito mais enfática a resposta que formulei na ocasião. Nos últimos dias tenho visto uma onda de misoginia bastante acentuada nas redes sociais, em casos tão graves que, inclusive, foram matéria do Jornal do Commercio nesta terça (15) e circularam entre os usuários do Facebook em Serra Talhada.

A página Beleza Negra PE divulgou uma foto da gestora ambiental Dandara Marques, a foto foi compartilhada por outro usuário do Facebook do estado de São Paulo que proferiu insultos racistas em relação ao cabelo de Dandara. Já na Capital do Xaxado, a página Serra Talhada Visão publicou postagens sobre personalidades da cidade, mulheres consideradas bonitas e famosas. Disfarçado ou disfarçada de colunista social a pessoa comenta os bastidores da festa de setembro, falando de brigas, celulite e outros comentários sem sentido que expõem a vida pessoal das mulheres citadas.

Ambos os casos merecem uma minuciosa reflexão sobre a forma como nós mulheres nos comportamos em relação às outras. Por que será que muitas vezes fazemos comentários tão cruéis, cobramos umas das outras altos padrões de beleza e comportamentos padronizados? Porque somos criadas em um mundo repleto de machismo que nos induz a reproduzi-lo! Cada vez menos nos respeitamos e nos unimos, pois as disputas entre poder e recalque, gostosa e feia, magra e gorda, branca e preta, lisa e crespa separam as mulheres, separam os humanos.

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O caso da gestora ambiental não foi apenas racismo, percebo discriminação de uma mulher negra, sendo agredida pela livre expressão de uma das mais importantes indumentárias femininas, o cabelo. E quando as duas mulheres, brancas, de classe média, magras, cabelos lisos e consideradas beldades? Qual o pretexto para recrimina-las se elas seguem todos os padrões que a sociedade cobra de nós mulheres? Como se ódio houvesse razão para existir, como se machismo pedisse licença para alienar mentes e motivar comentários tão estereotipados e infelizes.

Pior do que todos os casos supracitados somente o supermercado serratalhadense que privilegia os maridos com uma ótima cadeira de massagem, para esperarem confortavelmente suas mulheres fazerem as compras. É o que diz na propaganda. Como acabaram esses casos? Dandara Marques está procurando fazer justiça na Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, em Recife, registrando BO por crime de injúria racial. Quando a página foi devidamente excluída da minha rede social e pontualmente denunciada, provocando a exclusão do perfil da rede social. Uma pequena ação que para mim evitou uma cadeia enorme de repugnâncias.