Nós, professores e todos que compõem o processo educativo, temos o grande desafio de construir uma escola que não se curve aos poderes dominantes, que cumpra com o seu papel de formar cidadãos participativos, críticos e, sobretudo, livres, que saibam onde estão e para onde vão. Infelizmente, há muito tempo que a escola vem se desviando desse caminho. (se é que um dia esteve nele) O sociólogo francês Pierre Bordier nos diz que a escola do jeito que está funcionando, favorece mais a classe dominante do que ao povo.

Althusser é contundente quando afirma que ela (escola) não passa um aparelho ideológico do estado, em que professores e alunos figuram como sujeitos assujeitados pelo sistema, ou seja, estão inseridos nele, não como sujeitos, mas na condição de objetos.

E nessa condição, eles não têm o direito de reclamar, reivindicar, apenas o dever de ficarem calados e engolir o que vem de cima: currículos mal elaborados que não correspondem aos anseios dos alunos, falta de infraestrutura nas escolas para o desenvolvimento de pesquisas, bibliotecas sem profissionais competentes e preparados para orientar os usuários que as freqüentam, professores mal pagos, escolha de livros didáticos atendendo mais ao critério no mínimo estranhos, uma vez  que livros reprovados pelo MEC são utilizados por escolas particulares, que não são piores do que   as nossas.

“E nessa condição, eles não têm o direito de reclamar, reivindicar, apenas o dever de ficarem calados e engolir o que vem de cima”

Segundo Paulo Freire, o Brasil foi inventado de cima para baixo de forma autoritária. Precisamos reinventar esses termos. Tudo que os governantes querem são pessoas esclerosadas, parasitas, que adotem a política do imobilismo, achando que tudo está uma beleza, que as coisas são assim porque Deus quer (teoria da predestinação- calvinismo) Freire ainda diz que se compreendermos a história como possibilidade e não como determinismo, com certeza bloquearemos os caminhos que dificultam o nosso crescimento e oportunizaremos a capacidade de comparar, analisar, avaliar e decidir, rompendo com as amarras do continuísmo.

Se ficarmos com a cara pra cima olhando a banda passar, certamente nem a escola, nem a sociedade irão evoluir. Dessa forma, é preciso investir na criação de uma escola adequada às exigências que o mundo pós- moderno vem impondo. Não me refiro a acompanhar às babaquices midiáticas nem ao lixo cultural que virou epidemia no país, mas a construção de um projeto sério, que vise oferecer efetivamente, aos nossos alunos o mínimo de condição para sua sobrevivência social. Uma escola capaz de acompanhar as vicissitudes do mercado de trabalho e da tecnologia sem alienar, nem robotizar nossos alunos. A escola é um lugar privilegiado de interação e integração humana que se desencadeia na troca de idéias e experiências necessárias à compreensão do mundo, à nossa promoção humana e social.

Está lançado o convite para uma tomada de posição no que diz respeito à luta por uma escola melhor e mais produtiva. É necessário, pois, acreditar nos benefícios de uma educação de qualidade. Aquela que Paulo Freire proclamou por esse mundo afora: uma educação libertadora e por isso respeitadora do homem como pessoa. Chega de lero-lero, de conversa fiada, de enganação. No vida, os alunos precisarão de conhecimento, de habilidade e competência para seguirem em frente e não de notas como querem os governos e seus comandados.

*Gootembergue Mangueira é professor