leitorPor Luciano Menezes, Historiador

No pragmatismo moderno o valor da ação não se encontra nela mesma, mas quase sempre nas consequências geradas por ela. Não se julga a conduta pela própria conduta. Como diria Erasmo: um homicídio faz um celerado, milhões de homicídios fazem um herói. Roube um celular, seja flagrado e a grande massa vai suplicar a sua cara pérfida explícita. Todavia, caso desvie todos os recursos da Nokia, ou fraude o erário de forma corrosiva, tanto nas verbas destinadas a saúde, ou a educação; contanto que, seja um pouco latente; rico, será sempre apresentado com um conspícuo exemplo de vencedor.

Por que não apresentar a cara de um político que declara um apartamento em Boa Viagem no valor de 60 mil reais? Ou de quem desvia ocultamente verbas públicas? Ou de quem legitima que o salário mínimo é suficiente para uma família? Seria interessante mostrar a cara de quem preconiza direta ou indiretamente os subsídios de parlamentares? E se mostrássemos a cara dos governos que estabelecem pisos salariais de fome e aviltante para a grande maioria das classes? Preferimos não mostrar essas figuras, mas sim, de maneira pueril, orgulhosamente mostramos o ladrão de celular.

Nessa perspectiva de propagar uma moral ligada as consequências das ações humanas, o seu patrimônio precisa urgentemente aumentar, e não importa o que você faça para atingir isso. O emudecimento humano será sempre benéfico para a minoria privilegiada; essa inocência da maioria é demasiadamente útil. No imediatismo moderno é anormal e crime bárbaro roubar meu celular, mas é plausível e honesto trabalhar oito horas diárias ou mais por um salário mínimo.

Portanto, peço ao Farol que mostre os candidatos que guardam dinheiro “suado e honesto” em suas casas. E, diante da grande contrariedade, mostre os “grandes violões sociais” que andam usurpando “relevantes aparelhos eletrônicos” da nossa sociedade. Desse modo, a doença pelo consumo e pelo dinheiro paira em nossas mentes.