Por Luciano Menezes, historiador

“Às vezes observamos os discursos favoráveis que manifestam o interesse de um shopping em Serra Talhada. Ora! Shopping é desenvolvimento, portanto, não interessa de quem seja o desenvolvimento, nem mesmo se confundimos o desenvolvimento de um pequeno grupo com o desenvolvimento social geral. Petrolina possui um shopping e dois em construção, e o seu desenvolvimento é intenso, desenvolvimento de uma orla e um centro restrito, divergente dos seus mais de sessenta bairros em situação aviltante, abandonados, sem saneamento, pavimentação, e etc. O progresso em Petrolina também não suscitou uma única livraria na cidade.

Enquanto isso, Serra Talhada segue em seu quimérico desejo de um shopping, antes mesmo de sonhar com a fuga dos salários de fome e dos subempregos espalhados no comércio convencional. Proudhon afirmava que o operário deve calar-se e inclinar-se, pois o patrão é detentor do emprego e feliz daquele que puder obter o favor de suas trapaças. O quadro do desejo insensato de consumo e pauperização são pintados numa atendente do comércio em Serra Talhada que diz com todo orgulho não gostar de leituras. Mas, sem hesitar gritamos que é necessário um shopping, mais comércio e mais consumo, e a marcha do flagelo se torna mais lenta com a concorrência, tornando a vida cada vez mais cara num abismo que separa a classe que comanda e usufrui da classe que sofre e obedece.

O bem–estar sem educação embrutecendo o povo, a arbitrariedade econômica corroendo o homem e a moral, aliás, o consumo é o deus supremo e insaciável, o suor e o sangue dos trabalhadores no comércio é o combustível que movimenta e edifica a economia. Desse modo, sonhamos com luzes, brilhos, outdoors, propagandas, etiquetas, marcas, ambiente climatizado e etc. Pagos por quem e para quem? Pagos por todos, mas não para todos. Enfim, dar-se esmolas aos pobres com o dinheiro dos pobres”.