saudade1[1]Por Adelmo José dos Santos, escritor e poeta serratalhadense

No quintal da minha casa chegam muitos passarinhos, eu já peguei uma rolinha dentro da minha cozinha, e senti muita emoção quando eu vi que a rolinha era caldo de feijão. No quintal chega Pardal e Galo de Campina, Canário e salta-caminhos. Vendo o galo de campina eu senti preocupação, tinha um cidadão na rua com uma gaiola na mão. Era uma gaiola grande parecia um pavilhão. Todo dia ao meio-dia eu dou comida aos passarinhos.

Como é bom ver a cidade com as suas árvores verdes, com os passarinhos alegres curtindo o cair das chuvas, voando por todo lado nos quatro cantos das ruas. A natureza está trazendo os pássaros para a cidade, pra conviver com as pessoas sem sofrer com a maldade. É a natureza mudando o cenário da cidade, trazendo os passarinhos pra viver com liberdade. O cantar dos passarinhos já faz parte da rotina do quintal da minha casa junto com seu revoar. Eu me alegro ao ver os pássaros indo pra lá e pra cá, e curioso até fico, dando nomes a cada um, que acaba sendo amigo, eu nem sei que pássaro é, mas chamo de tico-tico, pinta silva, Maria Fita, pardal, canário do reino, galo campina, rolinha fogo pagou e rolinha caldo de feijão.

São nomes que saem da memória dos meus tempos de “peteca” quando eu caçava calango no Campo de Aviação, em Serra Talhada. Hoje os pássaros estão comigo, no quintal da minha casa na palma da minha mão. Dentro da cidade grande eu não via isso, não. Isso é coisa que acontece nas cidades do Sertão, quando eu estava em São Paulo a saudade era tamanha, por isso eu voltei pra casa, e vim pra Serra Talhada em busca das minhas origens seguindo o meu coração, eu sou homem da montanha, meu lugar é no Sertão.

A tartaruga Marina

É difícil acreditar com tantos pássaros nas ruas alegrando com o cantar, que ainda há gaiolas espalhadas nos terreiros impedindo o revoar. Eu criava uma tartaruga daquelas pequenininhas, a minha filha adorava nós chamávamos de Marina, a tartaruga pequena era uma grande menina. Ela nos dava alegria, ela era muito bacana, era parte da família. A pequena tartaruga era irmã da minha filha. No quintal da minha casa parecia uma cigana, ela gostava de se esconder por debaixo das cabanas. A tartaruga Marina era muito inteligente, quando ela se escondia dava um susto na gente, e quando ela aparecia deixava a minha família aliviada e contente, ela entrava na cozinha e surpreendia a gente.  Foi preciso colocar uma tábua no batente.

A minha família adorava a tartaruga Marina com muita estimação. Eu nunca pensei que um dia, com a morte de Marina, minha família ficasse sofrendo de comoção. Eu procurei fazer de tudo pra salvar Marina, consultei veterinário, fui doutor, fui enfermeiro, botei remédio na boca foi grande o meu desespero, acabou não dando em nada, a tartaruga morreu quando foi de madrugada.

Quando eu estou no quintal sinto a falta de Marina. Paro e fico pensando, e mesmo com o quintal vazio eu vejo ela caminhando. Nas voltas que o mundo dar, um velho fica menino, despreparado na vida com as mazelas do destino. Eu que era um “linha dura” não consigo explicação, de onde vem tanta ternura pro meu pobre coração. Nunca pensei que na vida depois de pai de família, um bichinho de estimação botasse tanta tristeza dentro do meu coração, deixando a minha família sofrendo na comoção.