images (1)Por  Luciano Menezes, professor com Pós-graduação em História Geral e do Brasil

Nunca houve um momento histórico tão rentável economicamente para os músicos e, sobretudo, para os empresários que lidam com a música lixo – mercadoria. Esse produto descartável, redondamente igual, em vários sentidos, conseguiu levantar um número incalculável de milionários, artistas artificiais em meio a uma arte tão medíocre, pobre e decadente.

Floresceu o trágico, numa decadência sistemática dos gostos em relação à música. Em meio aos ouvidos desfalecidos, reinou uma espécie de “reino dos ruídos.” Poluição sonora, com modelos idênticos, padronizados e temporários de “grandes artistas”.

Educados e adestrados, tomamos como parâmetro musical, a música do “rei” construído pela Tv Globo. Na impertinência do repetitivo e sagrado “especial fim de ano”. Fomos também mergulhados compulsoriamente na ideia que dava supremacia legítima a alguns “gênios” incontestáveis da música: Caetano, Chico e Gil. Todavia, o quadro ficaria ainda mais grave, pois a quantidade chegou a destruir totalmente qualquer qualidade que se delineasse. Evaporou-se, talvez, pouco depois do momento em que Andrés Segovia, afirmou que os Beatles faziam barulho e chamava o resultado final de música.

O fato é que, atualmente, alguns sugerem a necessidade de “faxinas” nos ouvidos entorpecidos, ou mesmo, “implantar ouvidos” nos homens que não possuem. Desencadear uma educação musical, que vá de encontro aos trajes grosseiros apresentados como perfeição musical. Configurando assim, dependências absolutas dos ruídos rústicos, impostos e comercializados, principalmente, pelos mercados musicais: rádio e televisão e grandes eventos.

A repetição exaustiva do lixo sonoro traz uma sustentabilidade e perpetuação, de maneira mais forte que a simples adesão insensível do povo – cegas obediências à moda musical. Essa modalidade de música coisificada, banal e efêmera foi associada ao lazer, usada como pano de fundo, para os homens incapazes de ouvir. Então, chegamos ao grau insuportável da poesia musical que articula rimas horripilantes na mesma classe gramatical. Assim, em resumo, esse mundo, é o que Theodor Adorno chamou de mundo musical inferior, onde os excluídos da música séria, limita-se a se alimentar do que lhe é dado de cima, causando então, o nosso cenário musical da atualidade.

“Quando o sol da cultura se põe, até mesmo os anões lançam grandes sombras.” (Karl Kraus).