charge-politico_discursandoPor Luciano Menezes, Professor com Pòs-Graduação em História Geral e do Brasil

Os discursos romantizados são aqueles distantes das realidades, pouco realistas em suas sofísticas. Trazem afirmações distorcidas ou falsas, muito embora harmônicas, e numa lógica das aparências, aparecem “verdades” a cada esquina – abundantes transbordam. Enquanto, para Demócrito, as verdades estavam nas profundezas, atualmente, elas se dizem visíveis e fáceis. Assim, todo o quadro social aparece quase perfeito; as tragédias e as injustiças tornaram-se eufemismos. Nunca foi tão fácil suavizar as dores alheia; fazendo pouco caso das dores humanas e mantendo muitas vítimas dos discursos românticos e mentirosos sob as rédeas curtas, sendo totalmente impossibilitados de uma verdadeira independência.

O enfoque desses discursos é mesquinho, tentam inculcar ideologias de igualdade numa sociedade onde pairam um abismo entre as classes e, consequentemente as oportunidades não são pra todos. Como se não bastasse, a ilusão e as mentiras da meritocracia, onde só resta, para a grande maioria, o “sublime objetivo” de se contentar com as migalhas. Aliás, para o discurso romântico é objetivo social, nobre e honesto o seu filho trabalhar num lava-jato ou em qualquer subemprego, uma vez que, tentam a todo custo lhe convencer que existe uma igualdade entre o maior acionista da Coca-Cola e os carregadores de caixas dessa empresa, que são, assim com muitos, açoitados e excomungados pelas barreiras sociais que os impedem de ao menos sonhar com algo digno.

Esses discursos cínicos provêm do fariseu moderno, que afirmam demagogicamente: “vai crescer na empresa, vista a camisa”.

De tempos em tempos esses discursos traz a figura de um “salvador da pátria,” de um Aécio, de um “doutor Fulano,” “doutor Sicrano,” e desse modo, essas falsas sublimidades, esses “mitos estadistas” são sugeridas como homens dignos, honestos e trabalhadores. Associados enganosamente ao trabalho, como se o trabalho fosse alguma virtude nas sociedades da tecnocracia orgânica, das aristocracias e das hierarquias plutocráticas.

Esses discursos românticos tentam transformar administrações medíocres e tirânicas em marcos históricos, e ao mesmo tempo, desassociam problemas graves, como a situação do Rio Pajeú, das “ilustres” figuras párias de deputados e prefeitos.

Nesse terreno enganador não se pode refletir, e muito menos falar. O ilustre historiador Paulo César bem sabe disso, assim como o próprio FAROL, que recentemente foi alvo de repressões despóticas, mas que continua imarcescível a cada dia.

Enfim, o que intuito é que o povo, gradativamente, faça as derrubadas das histórias românticas e edifique uma História mais próxima das dores e dos sofrimentos do povo, mais realista, que retire as máscaras e as ilusões que estabelecem barreiras intransponíveis para as camadas sociais mais fragilizadas.