Por Luciano Menezes, professor de História da UPE

A tradição imutável ao longo da história mostra a necessidade de uma figura mítica e “heroica,” e Lampião não o foi o primeiro nem o último mito artificial fabricado por matreiros com o intuito de embuste social. Desse modo, Serra Talhada não é a única a cultuar seus “heróis.” O “herói” nas sociedades primitivas era representado pelo feiticeiro, que extirpava todos os males, derrotando forças inimigas através da magia natural.

Na atualidade, a necessidade de liderança ainda se perpetua, observando a postura de admiração e exaltação do povo aos novos mitos políticos em Serra Talhada, sobretudo, os parlamentares em geral e chefes do Executivo.  Esses “heróis” políticos atuam paralisando o povo, e esses por sua vez, não oferecem resistência, subjugados antes de pensar, aguardam um milagre social, pois, a palavra do político é demasiadamente  sábia e confortadora, todos acreditam.

A autoridade mística dessas lideranças se mostra cada vez mais forte e alienante. Como afirmava La Boétie, em seu “Discurso sobre a servidão voluntária” que a alienação é tão doce como um refrigerante, enquanto, a liberdade, demasiadamente amarga. Liberdade, essa que foi suprimida e teve o seu sentido dizimado pelos partidos políticos, que fazem uso do termo para o seu próprio benefício. Enfim, esse costume de cultuar exerce grande poder sobre o povo.

A necessidade de criar chefes políticos e mitos ainda permanece enraizada na mente, o desejo de servir, o desejo de devoção é o mesmo dos primitivos, enquanto esses “heróis” conduzem a carruagem social.