Por Luciano Menezes, Historiador

O poder público reprime e classifica como “furto” os desvios de água na região. Dentro de uma circunstância física demasiadamente árida, o tal “furto” já era mais que previsto, de modo que, numa conjuntura de escassez perene da água se tornaria inevitável.

Então surge a pergunta: quem será o grande escamoteador de água? A mesma lei que dá novos entraves aos fracos fortalece concomitantemente aos ricos. Seria a lei das desigualdades? É a mesma lei que determina o que é e o que não é furto ou roubo. Ela estaria a serviço de quem? Repousaria sobre a mentira ou verdade?

Rousseau afirma que o primeiro que teve a audácia e cercou uma propriedade e disse que era sua, encontrou gente bastante simples para acreditar. Tal como esse fato, encontramos a privatização da água, e uma massa de gente simples para crer que ela tem dono. Outrora, era vital e bem comum a todos, agora tem dono e custa caro. Antes, pertencente ao povo, agora, ao capital dominante.

Tal como a energia elétrica, num raio de aproximadamente 400 km, de Sobradinho a Xingó, encontra-se quatro hidrelétricas. Contudo, não seria o bastante para uma mínima redução nas contas de energia. Do mesmo modo, encontramos a água, que agora se torna um artigo de luxo, para uso de poucos, ou apenas do seus poucos “donos.”