leitorPor Luciano Menezes, Historiador

A obediência cega é o emblema triste do servo das necessidades. E, essas necessidades transpassaram o desejo insaciável de ter bens e riquezas; agora é preciso ter status e influências políticas e sociais. É preciso também ser servo e senhor. O homem moderno parece não poder mais se libertar do desejo de servir. Desse modo, o bajulador precisa pensar no “finalismo” para se justificar os “meios.” Precisa obter alguma vantagem no seu eterno ofício de submissão, evidentemente em graus diferenciados, claro. Ainda que os “meios” sejam tão desprezíveis e cômicos, como aplaudir e elogiar a figura do herdeiro de Campos, assim, transformando tabulas rasas em gênios.

O lacaio sempre mendiga favores de seus vários amos, e espera por outro lado, obter parcialmente sua alforria para adquirir também alguns escravos, e ser igual ao senhor, ligeiramente superior e modelo de homem “perfeito.” Enquanto não obtém maior liberdade, ele às vezes funciona com um “gerente” exemplar, que administra as coisas do patrão, mantendo seus “companheiros” dentro da “ordem” do mercado servil, um capataz moderno, e tendo como troca: uns trocados a mais; o direito de se dizer mais íntimo do senhor e de receber umas “tapinhas” nas costas, e quase sempre ser alvo de zombarias.

Diante do “chicote” do mercado econômico e político, o subalterno homem moderno não pode mais ser ele próprio. Renuncia a si mesmo desde cedo, quando é quase obrigado a ingressar nos cursos que oferecem mais mercado. Pouco interessa a sua pessoa, e sim, as demandas dos editais, das fábricas, dos tribunais, das empresas, dos fóruns, dos hospitais. Cedem suas vidas ao conjunto das necessidades alheias ou mercadológicas.

Então, alguns afirmam convencidos numa razão cristalizada: “Mas, esse curso tem mercado? Paga bem?” Enquanto isso, boa parte da sociedade exalta esse modelo estrutural em que as pessoas devem viver para suprir as necessidades econômicas e vaidades alheias e, pouco se fala no indivíduo como figura essencial da vida.