Por Adelmo Santos, escritor e poeta de Serra Talhada

Eu devia está feliz por ter me aposentado com saúde pela nossa bela Previdência Social, eu devia agradecer ao Senhor por ter passado na prova de vida do INSS sem entender de anatomia e sem ter nada para estudar, eu devia está contente por ter feito uma prova de vida suada, onde eu fui o aluno e ao mesmo tempo a cobaia.

O INSS fica obrigando o aposentado comparecer no banco onde tem conta pra fazer uma prova de vida, ameaçando o cancelamento do beneficio de quem não fizer essa prova. Sofre mais quem tem conta na Caixa Econômica Federal que precisa passar por uma fila quilométrica que atravessa o quarteirão. Depois que eu passei pela aquela fila enorme da Caixa Econômica Federal de Serra Talhada, que não deixa de ser um teste de sobrevivência, a moça que estava no caixa ficou implicando por eu ter apresentado uma cópia da minha identidade, exigindo o documento original.

A minha presença, o meu comparecimento, não estava servindo para provar que eu estava vivo. Eu lembrei  Cristiano Ronaldo e bati no meu peito, dizendo “Eu tô aqui!” E mesmo assim, aquela moça bonita que estava no caixa, cheia de saúde com a roupa engomada, perfume cheiroso, parecendo um fada, não estava querendo aprovar a minha vida, me dando maçada. Ficou insistindo não viu minha vida. Duvidando. Enfim, não quis me aprovar fazendo perguntas zombando de mim.

Perguntou se eu conhecia algum funcionário do banco, eu disse que conhecia o gerente, e ela resolveu aprovar a minha vida. Emitiu dois comprovantes, um para ficar comigo e outro para mandar para o INSS. No comprovante de vida que ficou comigo estava escrito: “Beneficiário, sua prova de vida foi realizada com sucesso.”

Eu comemorei, fiquei feliz em saber que estava vivo. Essa foi à prova que eu tive mais medo de ser reprovado. Só faltou a bancária pedir pra eu plantar uma bananeira e dar um salto mortal. Agora eu carrego na minha carteira o meu registro de nascimento pra provar que eu nasci, e o comprovante de vida que recebi do banco, pra provar que estou vivo, mesmo. Documentos originais, porque as cópias não provam nada.

Mesmo mostrando que o coração está comigo, batendo dentro do meu velho peito. Foi assim que eu descobri que eu não era ninguém, que era apenas um número no registro do governo, na gaveta de alguém. Um número inteiro sem saldo, dentro do banco diante do caixa para provar que está vivo, sendo humilhado.

Estou devagar porque já tive pressa, nas estradas dessa vida já sofri a beça, vou curtir a minha vida, minha esposa, minha filha e minha tartaruga Marina. Eu vou pagar a conta do boteco da esquina, pra poder tomar mais uma, procurar ficar na minha, vou tomar uma cerveja e pedir como tira gosto, uma porção de tripas com farinha. Vou procurar minha turma, tirar do peito essa mágoa, entre um gole de cerveja muita conversa fiada só pra me distrair, depois que eu estiver cansado eu vou embora pra casa, para jantar e dormir.