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Por Emmanuelle Silva, militante dos direitos humanos, professora e redatora/repórter do Farol de Notícias

Na noite desta terça-feira (15), o programa global Profissão Repórter exibiu uma edição exclusiva sobre o feminismo em diversos pontos de vista, inclusive com uma cobertura da Marcha das Mulheres Negras em Brasília. O programa mostrou diversas mulheres feministas que refletem pelo movimento de gênero nas universidades e estudos acadêmicos, com famosas blogueiras, trabalhadoras que prestam serviços exclusivo para outras mulheres, a cantora Valesca com suas músicas polêmicas. Mas um caso de agressão aos repórteres me chamou mais atenção, já no final da reportagem.

Foi muito inspirador ver como essas mulheres empoderadas discutem gênero cada uma de acordo com as suas próprias bandeiras. Foi possível ver algumas das principais discussões do feminismo na prática e as diversas retaliações que essas militantes sofrem no dia a dia. Uma das entrevistadas declarou que toda mulher é feminista, mas ainda precisa reconhecer e auto-afirmar. Concordo e ratifico que feminismo prega a igualdade entre homens e mulheres, de forma alguma o que se quer é o poder absoluto do feminino. O machismo, a sua maneira, já faz isso. Faz comigo no meu trabalho, nas ruas, com amigos, nas redes sociais… e faz com milhares de mulheres todos os dias.

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O final do Profissão Repórter me chamou a atenção, pois corresponde a uma parte do que encaro todos os dias no meu trabalho com figuras públicas, anônimas, leitores e outros colegas de profissão. Dois repórteres negros foram alvo de comentários racistas de um dos principais perseguidores de feministas, Marcelo Mello. Ele já foi preso e encontra-se em liberdade, mas responde por diversos comentários machistas, racistas, e 10974311_10152823194394398_3596567490950942903_oquantos mais possíveis, no fórum criado por ele. Uma das principais vítimas é a professora da Universidade Federal do Ceará, Dolores Aronovich, responsável pelo blog Escreva Lola Escreva. Marcelo postou fotos da equipe e lançou comentários racistas sobre dois jornalistas, chamando-os de cotista e falando sobre o cabelo da repórter, que tem um black power maravilhoso.

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Esse tipo de comentário é bastante comum. Quando não são comentários de leitores que adoram criticar/implicar com meus artigos de opinião (debater não é agredir e julgar), são olhares extremamente inquisitórios que tenho que superar todos os dias nas ruas. O meu caso clássico e constrangedor foi uma ameaça de processo judicial, quando um entrevistado, diga-se de passagem um secretário do governo municipal, sentiu-se lesado com as minhas interpretações de suas declarações. Falas essas que são todas anotadas, gravadas, ouvidas, transcritas, lidas, relidas, revisadas e aprovadas por dois editores do FAROL, com o máximo de fidelidade ao que foi dito. A ameaça passa batido diante da atitude posterior, falando com esta reles repórter como se eu não entendesse do assunto. O que revolta é o fato de que parece que mulheres não sabem escrever e lidar com temas que, vocês machistas, atribuem apenas a homens.