Paulo César é professor especialista em História Geral

O processo de povoamento de Serra Talhada ao longo da história está diretamente ligado aos benefícios proporcionados pelas águas do Rio Pajeú. O rio nasce na Serra do Balanço, município de Brejinho, entre os Estados de Pernambuco e Paraíba. Percorre uma distância de 347 km até desaguar no lago formado pela Barragem de Itaparica, no Rio São Francisco. Margeia ao longo do seu percurso as cidades de: Itapetim, Tuparetama, Ingazeira, Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Flores, Calumbi, Serra Talhada e Floresta.

O Rio que já foi usado como um dos temas da música Riacho do Navio, de autoria de Zé Dantas e imortalizada na voz de Luiz Gonzaga, hoje vive agonizando em meio à poluição das suas águas, a degradação do seu leito e o assoreamento das suas margens, marginalizado e esquecido, tanto por órgãos públicos, como pela sociedade. É lamentável ver um dos nossos maiores patrimônios naturais e também um cartão postal da cidade servindo de depósito de lixo e de esgotos, um espaço dominado pela fedentina.

Esse cenário contrasta com os dos tempos áureos do Pajeú, onde as suas águas eram usadas para o consumo da população, além de ser um importante ponto de lazer da cidade, pois a maioria da população tomava banho nas suas águas, com preferência para o “Cortume” e o “Poço do Padre”, e jogava bola nas suas areias. Era um período em que as famílias frequentavam o rio, já que era comum ver mulheres lavando roupas, os homens pescando, para o consumo e a venda, e as crianças soltando pipas.

Em tempos de seca, a exemplo das décadas de 30 e 60 do século XX, foram construídos poços amazonas ao longo do trecho urbano, aproximadamente dez, para serem usados pela população, pois mesmo o Pajeú sendo um rio temporário, um grande volume de água era encontrado no seu subsolo. Porém, a partir da década de 80, o rio começou a sofrer as consequências do desenvolvimento econômico e urbano de Serra Talhada, diariamente dezenas de caçambas retiravam areia do seu leito, um verdadeiro crime ambiental.

Infelizmente nunca houve uma fiscalização com relação à retirada de areia do Pajeú, o que proporcionou lucro para alguns, de contra partida gerou o maior ataque ao meio ambiente já visto em nossa cidade. Outro agravante aconteceu no final de 1989 e início de 1990, quando a pedra do “Cortume” foi praticamente destruída a base de dinamites, para que as suas pedras fossem usadas no aterro para a construção da “Ponte da Cachichola”. Passados mais de duas décadas desses ataques nenhum projeto de revitalização do rio foi colocado em prática, mesmo que o tema seja constantemente colocado em pauta.

Na verdade falta vontade política para tornar algumas boas ideias em realidade, pois a revitalização do rio Pajeú é possível, basta vermos os casos do Rio Cubatão e Tietê, no estado de São Paulo, que chegaram ficar entre os mais poluídos do mundo. As lições deixadas pelos Rios Cubatão e Tietê nos leva a crê que é possível resgatar o brilho do rio Pajeú, mas para isso é preciso que população se conscientize de que não deve jogar lixo nas margens e nem no leito do rio, e que seja elaborado um projeto ousado no sentido de tratar os dejetos que são despejados diariamente no rio. Desta forma, ainda que seja há longo prazo, o rio Pajeú vai ser recuperado e voltará a ser motivo de orgulho para Serra Talhada e para o Sertão pernambucano.