saudade1[1]Por Adelmo José dos Santos, poeta e escritor serratalhadense

Nos anos 70 apenas 3% das crianças e adolescentes do Brasil estavam acima do peso, eram gordos ou obesos. Essa pesquisa afirma que as crianças e adolescentes de hoje são altos e são fortes devido a sua alimentação e que hoje eles estão comendo mais e melhor do que as crianças e adolescentes de épocas passadas. O pior é que a pesquisa diz que nesse  grupo, hoje 45% estão gordos e obesos no Brasil. Isso é consequência da vida sedentária facilitada, pelos avanços da tecnologia que fazem com que as crianças não precisem se esforçar fisicamente a nada.

Ao contrário de épocas passadas onde as crianças brincavam correndo na rua jogando bola, brincando de garrafão, amarelinha e de catuca. Isso me fez lembrar os tempos da minha infância, tempo em que na minha casa a gente só comia carne uma vez por semana. Era a década de 60, nesse tempo em Serra Talhada as famílias pobres passavam um sufoco danado. Na hora do almoço o cardápio era rotina: ovo cozido, sardinha, feijão, arroz e ovo ‘estralado’. Talvez, até seja por isso que a minha geração tinha a estatura baixa. Só nos dias de domingos a maioria das famílias que já estavam esperando, quebrava a sua rotina e todo mundo comia o seu macarrão com frango. A fome fazia com que os vizinhos fossem unidos, quando um não tinha café pegava emprestado a outro para devolver depois.

O povo se conhecia, era unido pela fome e dividia a dispensa quando a fome apertava marcando a sua presença. Quando eu tinha 15 anos o meu corpo tinha 12, e o tempo foi passando eu não ligava pra isso e acabei me acostumando. Também não só era eu que tinha essa estatura, toda a minha geração levava essa vida dura. No time de futebol todos tinham a mesma altura. Na década de 60, as crianças eram magras não tinha assalto a geladeira, nas casas só tinha o pote, não tinha supermercado com bolacha recheada, as crianças não tinham a oportunidade de comer tanta besteira. As famílias faziam as compras nas bodegas e nas feiras. As crianças eram franzinas ninguém tinha sobrepeso, ser gordinho era bonito não existia obeso.

A gente nadava no rio, o Pajeú corria solto era limpo sem esgoto. E a pedra do curtume era o seu porto seguro, era lá que os meninos davam um salto pro futuro. Dona Maura Fogueteira não media sacrifício deixava as festas bonitas com fogos de artifícios. No Ginásio Industrial os alunos aprendiam com seus erros e acertos, era professor Nogueira quem plantava e semeava e colhia o respeito. No DETRAN, seu Fortunato é quem dava a direção, a banda do Cônego Torres era a melhor da região. Pedro Cego era engraçado atravessava a cidade sabendo pra onde ia, andava sempre sozinho sua vara era o seu guia. Quando os meninos buliam gritando: ‘Olhe o buraco!’ Pedro Cego respondia: ‘Eu já tô é com o pau dentro’. Luca Doido e Neco Véi junto, com Luís Bacurim, eram o terror dos meninos, que gostavam de bulir pra depois correr sorrindo. Luís Bacurim era um doido que ficava passando de porta em porta, com um santo em suas mãos pedindo uma esmola.

Era tão bom ser criança nos meus tempos de menino, a gente levava a vida não pensava no destino o futuro era a esperança. Tomava banho de chuva sentia o cheiro do chão, o contato com a natureza era a nossa salvação, a gente gastava a energia e queimava as calorias brincando com os pés no chão, sem saber que era na terra que a nossa mãe natureza nos dava a proteção para não pegar doenças com a sua imunização. Tempos bons da minha infância quando eu lembro eu fico assim… Quanto mais o tempo passa a saudade aumenta em mim. A gente levava a vida do jeito que a gente quis, mesmo enfrentando a fome a gente era feliz.