Por um Cidadão Indignado, de Serra Talhada
– “Alguém tem arma de fogo em casa?” quando um pobre e excluso da sociedade e de qualquer tipo de informação possível, responde: -“Tenho senhor, uma bate-bucha, soca-soca, sem calibre, enferrujada até na lembrança, uma herança do meu bisavô, enterrada dentro de uma caixa, fechada com cadeados, nos fundos de minha propriedade”.
Conduziram o meliante, o inescrupuloso, o fora da lei, deram voz de prisão, algemaram, puseram no xadrez da viatura, ligaram sirene e partiram para delegacia afim de apresentar a autoridade policial para realização de procedimento de praxe.
Chegaram saltando das viaturas, exibindo o troféu, a potencial arma de fogo, porém, de corações limpos, tinham um atenuante “É CABA TRABALHADOR”, gente boa, já colhemos informações na localidade, e só trouxemos porque temos que cumprir a “lei”. E agora? Vamos fazer o APFD, diz o nobre bacharel, ao avaliar preliminarmente o boletim de ocorrência apresentado, crime previsto na lei, conduta delitiva comprovada, crime permanente, materialidade confirmada.
De repente, um escrivão despretensioso, pergunta: “Caros agentes públicos especializados de prevenção à criminalidade, o que motivou os eficazes policiais a conduzir a esta delegacia um “TRABALHADOR”, que possivelmente estava“trabalhando” ou no descanso do seu lar? Justificou o preparado e honroso policial: – “estou cumprindo a “lei”, estamos cumprindo metas, para no fim fazer jus ao “BÔNUS” por arma apreendida, e ainda vos digo, não esqueçam meu Boletim Eletrônico para justificar a recompensa pecuniária”.
E agora? O “BÔNUS”, esse é que tem valor, esse paga a cervejinha do final de semana, esse paga a faculdade, esse paga o carro novo, esse paga o luxo de quem não precisa roubar ou se desviar para ser recompensado, esse é a pura caracterização de uma polícia inerte, empurrada por metas bonificadas, e ainda assim, é fator causador de inúmeras insatisfações e alterações no humor de quem não detém esse privilégio. Todo o juramento em defesa da sociedade não passa de uma conduta motivada pelo “BÔNUS”, e assim, no demais, nada mais.
E assim, é confeccionado a peça meramente informativa de mais valor no direito penal brasileiro, o APFD, elaboradas, digitadas e formalizadas as peças, assinado e achado em conforme, vai assinada por todos, lindo! Segundo passo, arbitra-se a fiança, o autuado, o “TRABALHADOR”, é gente boa, e não possui renda fixa, fica o valor de R$ 242,00, um terço de um salário mínimo, galho fraco para qualquer pessoa, será?
Informado ao Autuado o valor da quantia que terá que ser disponibilizada, tendo mesmo retrucado: – “tenho que pagar mesmo”? Será que podemos dividir? Será que posso pagar com meu Bolsa-Safra ou Bolsa-Família? Se não, liga para alguém da minha família, pede ajuda por mim. E agora?
Resolvido o caso, faremos um balanço, mais um cidadão “TRABALHADOR” preso, solto, em virtude de fiança, se conseguiu, foi extirpado da sociedade um marginal, ou até mesmo como diria o condutor da ocorrência, “UM TRABALHADOR, GENTE BOA”.
Ficou o TRABALHADOR sem dinheiro, se pagou a fiança, devendo a quem emprestou, sem dinheiro para fazer a feira, sem honra, mal visto pela sociedade, precisando pagar um advogado para não ser condenado, com a ficha suja, a família passando necessidade, formando-se criminoso de verdade se permaneceu na cadeia, abandonado pelo estado, e ainda, sendo bucha de canhão para quem comando o crime, se tornando e fazendo parte de mais uma espécie nova que se forma todos dos dias nos estabelecimentos prisionais do país.
Por fim, fica a pergunta que não cala: Quanto vale um “bônus” de uma vida de um agricultor “trabalhador” preso em flagrante delito por posse ou porte de uma arma de fogo de uso “inofensivo”? meu Deus, abençoe a vida desses pobres de espírito, ponha em seus caminhos a conforto de tua palavra, acalentando assim suas ansiedades, povoando esta instituição de agentes firmados em teus ensinamentos. “AMEM”.
15 comentários em OPINIÃO: Uma história que se repete nas delegacias de PE e o perigo do bônus