Por Adelmo José dos Santos, Poeta e escritor, ex-presidente da Academia Serra-talhadense de Letras

Lá na década de 60 dentro de Serra Talhada era uma escuridão, a população sofria, o motor velho roncava pra dar conta da energia. Quando o dia terminava começava o desespero, a maioria das casas acendia os candeeiros. Do quarto para a cozinha, da sala para o banheiro, a luz que iluminava era a luz dos candeeiros.

Na escola eu era aprovado, nunca fui o derradeiro, mesmo estudando em casa sob a luz dos candeeiros. Eu fazia os exercícios e ficava entre os primeiros. O hino nacional todo dia se cantava, os alunos recebiam os professores de pé na sala de aulas. Só sentavam nas cadeiras quando o professor mandava.

Era muito interessante a rotina da cidade, as pessoas se encontravam só durante o período que o motor funcionava. As 11 horas da noite o motor era desligado, ficava tudo às escuras, precisava usar lanterna pra poder andar nas ruas. Entre as compras das famílias feitas em um bodegueiro, além do pão e a bolacha, também tinha o querosene pra botar nos candeeiros para iluminar a casa.

Quando chegava à noite Serra Talhada parecia a cidade dos vagalumes, com o povo caminhando com a lanterna na mão, e os guardas vigiando com a lanterna alumiando os caminhos, à procura de ladrão. Na maioria das casas não havia geladeira, bebiam água do pote e a atração era o rádio de pilha, que ficava bem na sala, encima da petisqueira.

Não tinha televisão, o rádio era o melhor amigo, era o divertimento que passava emoção, através da radionovela, das notícias, dos jogos de futebol, dos horóscopos e das canções. Hoje é tudo diferente do que era de primeiro, às vezes eu fico pensando quando bate o desespero, mas sempre encontro à saída, porque lá no fim do túnel eu vejo a luz do candeeiro. Já passaram tanto tempo, tanta coisa já mudou, mas eu tenho na memória, e a luz do candeeiro até hoje não apagou.