Por Manu Silva, professora, feminista, militante do Coletivo Fuáh, e repórter do Farol de Notícias

A ORIGEM DA ALCUNHA

Segundo o Google, famoso pai dos burros, fuxico é um vocábulo informal do Português Brasileiro. Na gramática é substantivo masculino que quer dizer de um comentário que é espalhado com base em suposições, em geral é desleal. Se você precisar ampliar o léxico para não repetir basta usar futrica, futrico, intriga, mexerico. Mas se você usa de intromissão no que não lhe diz respeito, bisbilhota… Você é fuxiqueiro.

Ser jornalista não é ser fuxiqueiro. Relatar fatos com isenção, noticiar, divulgar informações, contar histórias cotidianas, expressar ou não opiniões, refletir sobre os temas de um determinado local não é ser falador da vida alheia. O povo confunde, chama de Tia Maria, aquelas senhorinhas que sentam na calçada no final de tarde e ninguém escapa da língua navalha delas. Pode ser até da família, uma boa Tia Maria não perdoa uma.

Ei, mas cá entre nós, quem não gosta? Aquele fuxiquinho sem maldade, só aquela história interessante sobre o que tá acontecendo por aí. Eu acho, sinceramente, que todo mundo gosta de ficar sabendo de um fuxico bem cabeludo ou uma resenha bem divertida. Eu mesma digo ao povo que sou Fuxiqueira Profissional, meu trabalho é ficar sabendo das coisas e conta-las. E olhe que no site nem tem coluna de fofoca, se tivesse… hum hum misericórdia!

Foi nesse contexto que surgiu o Repórter Secreto do Farol, no começo nem o dono sabia quem era. Só mandava a história, não queria contato ou identificação. De tanto chegar em cima da notícia ganhou a confiança e a amizade do jornalista experiente. É tanto que quando o Disque Farol toca, o patrão já sabe que aconteceu alguma coisa, o menino não liga em vão. Até então, só ouço falar de informação de acidente, morte morrida e matada, roubo, facada, tiro para o alto e troca de tapa.

Na primeira visita a redação, minha gente! Vocês tinham que ver. Parecia pinto no lixo, os olhos brilhavam tanto, viraram o próprio farol. Apertou a mão de todo mundo, olhou o banner na parede e fez pantinho para tirar uma selfie. Logo lembrou que não quer que o povo saiba que ele é um informante, uma fonte. Pediu um copo de água nervoso, sentou suado no banco alto com duas pizzas debaixo do braço. Nervoso demais!

Depois de recuperado, disse meio gago: Oh oh oh, Giovanni – puxou o fôlego fundo e disparou feito uma cobra corredeira:

“Disse que teve um acidente lá na BR-232 nestante mandaram um monte de foto a moto Honda Titan 150 vermelha placa XYZ 0000 com três adesivos da Pucca sendo um destes meio levantado do lado esquerdo porque a filha do motociclista fez uma malinação semana passada e tentou arrancar tem um pneu careca e bateu lateralmente num Gol Caixinha preto agora a placa não deu para ver do tanto de gente que aparece na foto e o homem fugiu sem prestar socorro. Eita! Tão dizendo agora que o homem da moto deu três boladas no chão antes de bater com a cabeça no meio fio a sorte dele foi o capacete que não saiu só rachou. Disse que o homem estava todo relado e a cabeça do outro com um corte do tamanho do mundo”.

O impressionante é que ele nem piscou para dizer isso, foi chocante. É claro que ninguém entendeu nada. Fomos pegando os detalhes aos poucos, ligamos para os bombeiros, para o hospital, para a Polícia Civil e Militar. Foi um rebuliço daqueles nos telefones. Todo empolgado o novo repórter ainda fez questão de levar o fotógrafo no local para ver se ainda conseguia alguma imagem. O danado do acidente teve mesmo, acertou o fato. Cheio de boato, os detalhes todos revirados.

Foram dois carros, o acidente havia acontecido pela manhã e em um deles tinha uma mulher. Só o prejuízo material, as vítimas sem nenhum arranhão. Depois de publicar a notícia e chorar de tanto dar gaitada das trapalhadas, o chefe retornou para o menino e exclamou: “A matéria está no ar, olhe lá no site. Compartilhe aí com as suas fontes. É… Você é o nosso Repórter Secreto, igual aquele do Fantástico que descobre tudo e ninguém te descobre”.