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Por Correio Braziliense

 

Uma festa atípica com a vitória de um filme agênero — a aventura com contornos filosóficos Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo — foi o placar da festa da 95ª cerimônia do Oscar. Conduzido pela dupla Daniel Kwan e Daniel Scheinert, Tudo… colocou no pódio uma aventura, 20 anos depois da consagração de O Senhor dos anéis: o retorno do rei. Distanciado do policial Operação França e dos filmes de estrutura clássica vencedores O maior espetáculo da Terra e A volta ao mundo em 80 dias, também aventuras, Tudo… foi consagrado ainda pela melhor montagem, num trabalho espetacular de Paul Rogers (no segundo filme da carreira). No palco, o montador fez menção a qualidades inesperadas dos diretores, os Daniels: “generosos, estranhos e sensuais”.

A dupla venceu ainda o prêmio de melhor direção e de melhor roteiro original, na ocasião em que deixaram a festa mais descontraída, se dizendo “menos burros” e expondo problemas de autoestima e a ostentação de síndrome de impostores (no caso, de serem bons diretores). Com o prêmio de melhor diretor, Daniel Scheinert agradeceu a todas as mães do mundo.

Michelle Yeoh, melhor atriz, aos 60 anos, fez história como a primeira asiática vencedora na categoria central e ainda incrementou a tripla vitória nas atuações do filme, um raro feito. Ao abarcar um discurso de esperança e de possibilidade de concretização de sonhos, Yeoh lembrou que as pessoas não podem ditar limites de idade para as realizações de terceiros. Falando a meninos e meninas, ela exaltou: “As mães são as superheroínas e, sem elas, ninguém estaria aqui”. Nascida na Malásia, Yeoh destacou a história sendo feita.

Caos

Apresentado por Harrison Ford, o prêmio de melhor filme trouxe o sétimo Oscar da noite para Tudo…, uma trama sobre o valor equânime das pessoas dentro do mundo. Falante, o diretor Daniel Kwan voltou com mais um discurso. Lembrou que histórias (de cinema) mudam a nossa vida, e ainda talhou agradecimento “a todas as pessoas que geram proteção dentro do caos do mundo à nossa volta”.

Entre mulheres, filme de discurso amplamente feminista conduzido por Sarah Polley, levou na categoria de melhor roteiro adaptado (feito a partir da obra de Miriam Toews).

Brendan Fraser, 30 anos depois de iniciada a carreira, e que se viu estagnado, após filmes como A múmia e George, o rei da floresta, venceu como o melhor ator por A baleia, ao protagonizar um professor com obesidade mórbida. “Me sinto no multiverso. Foi uma honra estar em um filme tão ousado. Agradeço por me darem uma linha para me salvar a vida. Tenho 30 anos de carreira, e as coisas não aconteceram de modo fácil”, disse ele, que contou do resgate, pelo amor, depois de mergulhar num fundo de oceano.

Com o primeiro prêmio entregue para um favorito — Pinóquio (da Netflix) — houve no palco a saudação do stop motion, que, como ressaltou o vencedor Guillermo del Toro, “não é apenas para crianças”, uma vez que o diretor revestiu com muita sombra e dor a trama do boneco com compulsão de mentiroso. Vencedor dos importantes prêmios do Sindicato dos Atores e do Globo de Ouro, o coadjuvante Ke Huy Quan, de Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, começou a esquentar a festa. No discurso de vencedor, ele lembrou da infância num acampamento de refugiados, e depois de aplaudido, de pé, pelos colegas, o ator asiático mencionou o sacrifício da mãe e falou do momento que parecia saído do cinema: “Este é o sonho americano”.

Num bloco que valorizou o tom inclusivo, a vencedora como atriz coadjuvante Jamie Lee Curtis celebrou, coletivamente, o prêmio recebido, ao interpretar uma pedra no caminho da protagonista de Tudo…, a temida auditora da receita federal. “Parem: tenho 45 segundos. Não sou só eu, represento centenas de pessoas. Agradeço a todos que possibilitaram que eu fizesse filmes de gênero durante todos estes anos. Ganhamos um Oscar, juntos”, disse, no palco, a filha dos astros Janet Leigh e Tony Curtis.

A dura realidade de um opositor ao regime russo, Alexei Navalny, retratada no documentário Navalny, saiu consagrada com o Oscar. A Alemanha chegou à quarta premiação, na 20ª competição, no segmento de filme internacional, com Nada de novo no front. A estatueta veio 17 anos depois da vitória de A vida dos outros e se juntou aos prêmios de direção de arte e trilha sonora.