Do G1

Pacientes que venceram a Covid-19 estão morrendo por infecção hospitalar por desabastecimento do principal antibiótico que mata bactérias multirresistente – a Polimixina. São pacientes que ficaram internados por um longo tempo com ventilação mecânica e outros aparelhos. Um levantamento do Jornal Hoje mostra que o desabastecimento do antibiótico já atinge hospitais públicos e particulares de treze estados e no Distrito Federal.O JH teve acesso a um vídeo gravado por um vendedor que diz ter contato com distribuidoras de remédios de uso exclusivo em hospitais. A falta do medicamento na rede pública e privada do país tem empurrado famílias de pacientes de Covid para atravessadores, que cobram preços altos. A encomenda era para a Fernanda Ferreira Kalil, que estava desesperada para salvar o pai Fernando, que estava intubado no Hospital Regional, em Campo Grande. Quarenta ampolas de Poliximina estavam sendo vendidas por R$ 12 mil, quase oito vezes mais do que o preço médio pago pelos hospitais. Mas não deu tempo. No dia 13 de junho, Fernando morreu. “Infelizmente ele não conseguiu finalizar o tratamento”, conta Fernanda.

Desde maio, a Santa Casa de Matão, no interior de São Paulo, tem dificuldade para comprar o remédio. “Conseguimos, felizmente, nessas últimas semanas negociar uma compra de Polimixina B. E devemos ter estoque aí para uns 15, 20 dias”, diz Flávio Antonio Borsetti Neto, coordenador de UTI da Santa Casa de Matão.Na capital paulista, funcionários do Hospital Geral de Guaianazes relatam que nos últimos dias, pelo menos nove pacientes da mesma UTI desenvolveram infecções que poderiam ser tratadas com a Polimixina B e que o hospital, que é do governo do estado, está sem o antibiótico. Todos os nove pacientes morreram.

No Brasil, cinco empresas têm autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para comercializar a Poliximina injetável. E os laboratórios afirmam que os pedidos aumentaram muito – e que, por isso, foi preciso prorrogar os prazos de entrega. “O antibiótico está em falta não somente no mercado brasileiro, mas também no mercado exterior pela necessidade maior agora por conta da pandemia de Covid-19, os custos estão mais elevados, e isso acaba gerando também a dificuldade nos serviços públicos. Então para isso precisaria ter também uma mobilização maior do Ministério da Saúde para que seja facilitada essa compra por conta do serviço de saúde”, diz Leonardo Weissmann, infectologista a Sociedade Brasileira de Infectologia. Em junho, a Anvisa autorizou que o remédio fosse importado de forma excepcional e temporária. Com essa liberação, alguns hospitais particulares têm comprado o antibiótico fora do país.