Do Diario de PE

Não é preciso análise profunda para perceber quão pouco diversa costuma ser a produção audiovisual de Hollywood: quem frequenta cinemas deve notar o perfil étnico predominante nos filmes. Estudo publicado no ano passado pela Universidade de Southern, na Califórnia, apontou que brancos representavam 70,8% dos papéis com falas nos cem títulos de maior bilheteria de 2016.

Já os atores negros eram apenas 13,6%, de um total de 4.583 personagens. Diante desse cenário pouco representativo, Pantera Negra, blockbuster da Marvel que tem sessões a partir de meia-noite, faz uma saudável inversão, com elenco majoritariamente afro-americano, além do diretor, Ryan Coogler, e outros integrantes da produção.

O núcleo do filme é encabeçado por Chadwick Boseman (T’Challa/Pantera Negra) e tem ainda Lupita Nyong’o (Nakia), Danai Gurira (Okeye), Daniel Kaluuya (W’Kabi) e Michael B. Jordan (Erik Killmonger), entre outros. Martin Freeman (Everett K. Ross) e Andy Serkis (Ulysses Klaue) são os únicos caucasianos no elenco principal.

Ainda que seja alardeado como primeiro filme solo de super-herói negro, Pantera Negra não é pioneiro nesse campo, mas é a maior produção. Entre os exemplos anteriores estão os menos lembrados Aço (1997) e Spawn (1997), além do bem-sucedido Blade: O caçador de vampiros (1998), que rendeu duas sequências, em 2002 e 2004. Há, ainda, Mulher-Gato (2004), estrelado por Halle Berry, embora a personagem se enquadre melhor como anti-heroína.

Seja como for, não é uma lista exatamente longa de filmes nem, muito menos, um problema específico das produções de super-heróis. Aliás, transcende a sétima arte: a falta de diversidade é notável também em outras mídias e expressões artísticas, dos programas televisivos aos videogames. E, claro, abrange outras esferas para além da questão étnica, incluindo a representatividade feminina, LGBT e de pessoas com deficiências, entre outras minorias.

Pantera Negra nas HQs
A despeito do nome, o personagem não fazia referência ao Partido dos Panteras Negras, chegou a declarar Stan Lee, cocriador ao lado de Jack Kirby. A inspiração viria de um personagem de revistas pulp cujo símbolo era justamente a pantera negra. Nas primeiras artes conceituais, Kirby chegou a anotar o nome Coal Tiger (Tigre de Carvão, em português). Herdeiro do trono de Wakanda, uma sociedade fictícia africana mais intelectual e tecnologicamente avançada, T’Challa é também líder do clã Pantera.

A primeira aparição foi na HQ do Quarteto Fantástico, em julho de 1962 e, após participações especiais ao lado de outros personagens, ganhou um título próprio somente em 1973, na revista Jungle action. Ao longo das décadas, o herói chegou a ter algumas séries, a mais longeva delas com pouco mais de 60 edições. No Brasil, o Pantera nunca teve revista própria e a fase mais recente do personagem, que serve de base para o filme, é publicada em volumes encadernados, compilando as edições mensais, assinadas por Ta-Nehisi Coates (roteiro) e Brian Stelfreeze (arte).

+ Em versos
Fã de quadrinhos, o rapper Emicida escreveu, ao lado de Felipe Vassão, uma música intitulada Pantera Negra, dedicada ao herói da Marvel. A faixa, já disponível nas plataformas de streaming, faz referências a outros personagens negros das HQs e à cultura Black e ancestralidade. “Com a garra, razão e frieza, mano/ Se a barra é pesada, a certeza é voltar/ Tipo Pantera Negra (eu voltei)/ Tipo Pantera Negra”, diz o refrão da canção.

Olhar
Vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por Histórias cruzadas (2012), Octavia Spencer estará no estado do Mississipi para o lançamento do filme e anunciou que irá bancar sessões destinadas a comunidades carentes. “Quero garantir que crianças negras possam se enxergar como super-heróis”, disse a atriz, que fez ação similar no ano passado para exibição do filme Estrelas além do tempo.