Fotos: Farol de Notícias/Jéssica Andrade

Publicado às 04h57 desta quarta-feira (16)

Por Jéssica Andrade, Especial para o Farol

Paulo Roberto Inácio de Lima, 64 anos, vende quebra queixo há 30 anos em Serra Talhada, hoje único vendedor desse doce que é o queridinho do sertão, diz que só para quando Deus quiser. Ele faz a produção toda sozinho, desde ralar o coco até as vendas.

“Eu já tentei parar, mas não aguento ficar sem fazer nada, enquanto Deus me der força e coragem de fazer o quebra queixo, eu vou continuar até o fim.”

Natural de Serra Talhada, se mudou para Triunfo há 18 anos, mas continua vindo pelo menos duas vezes na semana vender o quebra queixo. Trabalhou muito tempo na roça e com carroça de burro, mas percebeu que não estava dando certo e decidiu trabalhar por conta própria. E foi na Bahia que ele aprendeu a fazer o doce, com Antônio do Quebra Queixo, a quem tem muito respeito.

Como em Triunfo a feira é menor que a de Serra, ele prefere vir para Capital do Xaxado com 10kg de quebra queixo e passar o dia vendendo no centro da cidade. Vem de carro, mas é na bicicleta que ele faz sucesso, fica na esquina da prefeitura, quieto, porém atento, atende todos os clientes com responsabilidade e relata o quanto está sendo difícil nessa pandemia.

“Não é fácil, passei seis meses parado, não estava me sentido bem com a situação, tinha medo da doença e só decidi voltar agora no dia 9. Mas é bem complicado, tenho que trazer máscara reserva, álcool em gel, ter muito cuidado com o contato com o dinheiro, a gente não sabe onde essa doença anda e todo cuidado é pouco, nem de lotação eu venho, porque os carros andam cheios, prefiro vim com meu carro, ter uma despesa maior, mas ter segurança.”

Paulo Roberto sustentou a família só com a venda do quebra queixo até quando conseguiu se aposentar, hoje mora com a esposa, os filhos já estão criados, são 3  e 7 netos. Mesmo aposentado, o doceiro preferiu continuar com as vendas para ajudar nos custos que cada dia mais ficam mais difíceis. Ele relatou ao Farol que até seu médico aconselhou continuar na produção.

“Um dia fui ao médico fazer exames de rotina, graças a Deus não deu nada, o médico olhou para mim e perguntou o que eu fazia e eu disse que fazia quebra queixo e vendia na rua, o médico olhou para mim e disse: ‘pois não pare, isso está lhe fazendo bem, sua saúde é de ferro.’ E é verdade, esse tempo que fiquei parado eu não estava me sentido bem, voltar a vender me deixa melhor, mesmo quando fico cansado prefiro fazer o doce do que ficar parado.”

Com muita garra e humildade o senhor Paulo do Quebra Queixo mantém uma tradição quase esquecida  no sertão do Pajeú.