No início da semana, Serra Talhada perdeu uma das suas ilustres filhas, a professora Benona Ignacio Oliveira, que faleceu aos 102 anos de idade. Como forma de homenageá-la mais uma vez (in memoriam), o Farol de Notícias resgata um texto escrito pela professora em 1980 e publicado na “Revista Destaque Sertão Social”.

Com uma narrativa cheia de emoção e de muita sensibilidade, a Dona Benona, que muitas vezes nos cativava pelo jeito simples e aparência frágil, faz das palavras um convite para adentrar e conhecermos uma cidade que já não existe mais, mas que para ela, foi e continuará sendo a sua eterna “Villa Bella”.

SAUDADES DA VILLA BELLA

 

                                                                               Por Benona Inácio Oliveira 

Saudades da Villa Bella: Do meu tempo de criança, com suas poucas ruas ao sopé da altaneira serra talhada, com o “Buraco do Morcego” e “o pote de Ouro do Reino Encantado” cuja lenda encontra-se adormecida, mas, o cume da montanha aponta o alto, mostrando a predestinação deste rição querido.

Das margens arenosas do “Rio pajeú”, que nos fortes invernos, encanta com suas águas, canoas e natação, amedrontando a periferia com suas enchentes, desalojando famílias que são abrigadas pela sua gente de índole bem fraterna.

Do açude da nação, sangrando em queda d’agua, também da bela cachoeira transformada no grande “Açude cachoeira” que abastece a nossa cidade.

 Dos velhos casarões, onde reinava a fraternidade e as crianças brincavam alegres com bonecos e piões, soltavam papagaios de papel; das largas ruas sem calçamentos, onde sobre a luz fraca dos lampiões a gás, ou no belo luar sertanejo, corriam, brincavam de rodas e recolhiam-se aos lares ao toque da corneta da corneta da cadeia pública e ao som das nove badaladas do saudoso e inesquecível sino da Matriz da Penha.

Das escolas estaduais, das dinâmicas professoras com passeatas; discursos, poesias e ginásticas em 7 de setembro, e das festas da Padroeira, do natal e ano novo, com as ruas cheias de gente, barracas, carrosséis, fogos de artifícios, cutiladas, bandas de música; do carnaval na rua com ‘entrudo’ nas casas das famílias, do S. João com fogueiras e milho assado, das fervorosas novenas do mês de maio.

Da feira da rua da estação, do correio com seu gigantesco “baobá’’ e o “tantão” querido das crianças; da “educação Arcaica”, quando as famílias eram mais unidas, os filhos mais obedientes, respeitando as autoridades e os seus pais.

            Enfim, saudades da Villa Bela dos nossos antepassados, que plantaram com alicerces profundos e hoje, vemos de pé o progresso da nossa querida serra talhada, nas largas ruas e nas índoles de filhos, conserva algo dos tempos idos, tão distantes e de evocativas lembranças.

 

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