negradelutaRetorno com a coluna ‘Desembucha’, para discutir um assunto que me intriga já alguns meses, não sei se por omissão ou falta de debate, mas por que a maioria dos homens e mulheres negras de Serra Talhada não se reconhece como tal? De acordo com dados do IBGE de 2014, a população negra brasileira corresponde a 53% das pessoas, incluindo os que declaram pretos ou pardos. Sempre tive dúvida do que significava a terminologia parda na certidão de nascimento, mas no fim das contas somos todos negros, independente de como nos vemos no espelho ou como nos apresentamos para as outras pessoas.

Há uma aversão muito grande na cabeça das pessoas de serem chamadas de negras. O sistema escravocrata da época da colonização parece não ter saído das nossas cabeças, ser adjetivado de negro é uma ofensa para aqueles que não enxergam o que está diante de seus olhos. Traços tão marcantes de uma história de sofrimento e luta deveriam ser símbolos de luta e resistência, o cabelo afro, o turbante, a religiosidade de matriz africana, as comidas, as expressões do nosso idioma, a musicalidade, a dança, o esporte. Nosso cotidiano está repleto de negritude que é negada na hora de assumir a cor/raça.

Veja também:   Homem é alvo de ataque e é ferido no pescoço e cabeça em ST

Após a nova onda ou moda dos cabelos cacheados vi crescer a adesão de mulheres e homens serra-talhadenses deixarem seu afro florescer, foi muito bonito. Porém, junto dos cachos cresceram os olhares e comentários maldosos associando a outras piadas racistas. Muitas dessas anedotas sem graça são mais comuns do que se imagina: ‘dia de branco’ – como se só os brancos trabalhassem; ‘denegrir’ – verbo com mesma raiz miss1morfológica do substantivo negro; ‘cheiro de nego’ – independente da cor, pessoas podem cheirar mal; ‘cabelo ruim’ / ‘cabelo de nego’ – não há cabelo melhor ou pior que o outro.

Muito do racismo velado, da vergonha de ser negro e das tentativas de embranquecimento – seja negando sua cor dizendo-se moreno, cor de chocolate, alisando os cabelos, hipersexualizando e exotizando os negros – é reproduzido em diversos lugares, no mundo, no Brasil e em Pernambuco. Entretanto, em Serra Talhada, o que incomoda é a falta de debate com relação a todos esses assuntos. Será que as escolas debatem? Será que os poderes e instituições públicas debatem? Será que você já debateu consigo mesmo? Não espere que o racismo responda essa pergunta por você, combata primeiro!