Já foi o tempo em que o Sertão carregava consigo o estigma de terra seca, difícil de viver. Hoje, em Serra Talhada, cerca de 70 pescadores encontraram na palavra associativismo uma alternativa rentável e segura de melhorar de vida. Eles se uniram em prol da piscicultura e investiram numa técnica de produção que virou sensação pelo interior do Estado: o filé de Tilápia. Atualmente, cerca de 150 famílias que trabalham com a pesca e o beneficiamento do peixe no açude da Fazenda Saco, localizado nas terras do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), a 7 quilômetros do centro da Capital do Xaxado, comemoram o sucesso da ideia.

O êxito do trabalho é devido, principalmente, a forma de comercialização. Os produtores encontraram um meio de negociar diretamente com supermercados e outras empresas, sem depender de atravessador. A cada 15 dias, Gerôncio Gomes, 59 anos, coordenador da Associação de Pescadores da Fazenda Saco, realiza a intermediação com os compradores. Nos dias de distribuição, ele acorda cedo, enche o reboque do carro com quilos de filé de Tilápia, e segue viagem confiante na venda do que foi produzido. Desse modo, abastece supermercados em 25 cidades do interior de Pernambuco.

Outra vitória aconteceu com ajuda do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Urbano Sustentável (CMDRUS). O órgão, apoiador do pequeno empreendedor, garantiu que parte do montante produtivo da Associação fosse incluída no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), ambos do Governo Federal. Com a certeza de escoamento da produção a partir da compra realizada pelo poder público, os pescadores trabalham com tranquilidade. Hoje o peixe beneficiado na Fazenda Saco virou peça certa na mesa de famílias carentes e no cardápio da merenda escolar do município.

“Mas ainda precisamos de apoio. Não temos câmara frigorífica própria. Nem caminhão-frigorífico para escoar essa produção com maior qualidade”, revelou o coordenador da associação, Gerôncio Gomes. Outro problema, segundo os pescadores, é o mau aproveitamento do montante que sobra após o tratamento do filé de Tilápia. “Do que tratamos, aproveitamos apenas 30%. O resto está sendo jogado no lixo, por que não temos material para beneficiar o couro e outras partes do pescado. Se a gente tivesse maquinário 70% da produção não seria desperdiçada e teríamos condições de trabalhar em cima de 100 toneladas por mês.”

PRODUÇÃO

Com esse trabalho são produzidos cerca de 30 toneladas de peixe mensalmente. Além do filé de Tilápia, eles trabalham com o beneficiamento das espécies Traíra, Tambaqui, Piau, Carpa, Corvina e Piaba. Existe ainda o preparo para o consumo de camarão e almôndega. Os pescadores trabalham por produção, de terça a sábado, e chegam a apurar, em média, R$ 600. “Depende do quanto você trabalha. Teve gente que já tirou mais de três salários mínimos do pescado”, disse Gerôncio. O quilo do filé é vendido por R$ 10.

Para a captura dos peixes são utilizadas cerca de 500 redes de pesca, com 45 metros de comprimento cada uma. Os produtores possuem mais de 60 canoas e 120 tanques-rede. Para José Paulo de Oliveira, 46 anos, membro da Associação de Pescadores da Fazenda Saco, participar desse trabalho é gratificante. “Dá um orgulho danado. É compensador demais”, confessou, comovidoAlém da parceria com o CMDRUS, os pescadores também têm o apoio da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (Uast/UFRPE). Segundo Gerôncio Gomes “desde que a universidade chegou aqui, há cinco anos, nós sempre trocamos informações sobre como melhorar o nosso trabalho. Eles nos ajudam muito.” Agora, com ocupação e renda, não há mais necessidade das famílias da Fazenda Saco migrarem do local onde nasceram em busca de emprego.

CMDRUS  
RECONHECIMENTO:Ana Paula Monteiro, coordenadora do CMDRUS, recebeu em mãos a chave do carro e o notebook

Devido à ótima atuação frente às associações de produtores rurais em Serra Talhada, o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Urbano Sustentável já recebeu prêmios. Em 2009, foi selecionado entre os 179 conselhos existentes em Pernambuco para receber as premiações Melhores Práticas e Melhor Conselho.

O certame representou uma iniciativa do Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (ProRural), recentemente vinculado à Secretaria de Desenvolvimento e Articulação Regional do Governo do Estado. O CMDRUS foi agraciado com um carro zero quilômetro e um notebook. A sua função é apoiar as associações comunitárias e, com elas, planejar caminhos viáveis de realização de projetos que gerem emprego e renda para a população. Hoje, o Conselho de Serra Talhada possui mais de 100 associações cadastradas e cerca de 300 pessoas conveniadas.