Psicóloga de ST analisa perfil de golpistas
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto.

Publicado às 06h15 desta quinta-feira (19)

Fanatismo e alienação política foram dois temas que permearam a conversa do Farol de Notícias, com a Psicóloga Clínica e especialista em Gestão de Pessoas, Bruna Andrade. A profissional é CEO da BWA Clínica de Psicologia e RH, atuando a partir da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) com adolescentes e adultos, e também realiza consultorias na área de Gestão Humanizada. Ela apontou as características fanáticas, narcisistas e a relação com atos terroristas de ataques a democracia.

ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA BRUNA ANDRADE

Farol: A forma como as pessoas tem pensado e vivido a política nos últimos anos no Brasil pode estar gerando situações de adoecimento psicológico?

Psicóloga de ST analisa perfil de golpistasO que vemos são situações de fanatismo político. E o fanático político é totalmente extremista, na verdade exige um padrão muito rígido e intolerante a opinião das outras pessoas, que sejam contrárias a dela. O sofrimento psicológico que pessoas com essas características apresentam passam por uma alienação política, que está ligada a crenças políticas radicais. O indivíduo tem uma certeza errônea sobre determinado político ou partido e resiste a mudar a opinião frente à qualquer evidência.

A pessoa fanática tem problemas para perceber que está errada e confia muito em seu próprio julgamento, tem uma necessidade de se sentir infalível. Que é ocaso do que aconteceu em Brasília, o fanático não cumpre regras e normas sociais. Por isso que acaba cometendo alguns erros, acredita que esse comportamento obsessivo é normal.

Farol: Podemos considerar o fanatismo político um tipo de doença ou transtorno psicológico?

A gente não pode dizer que essas pessoas são doentes, não é uma doença. Entendemos que essa alienação se dá por conta do fanatismo. E a raiz desse problema ocorre quando existe um líder que endossa crenças que já existem. Esse líder potencializa as crenças que já existem nas pessoas, fortalecendo a opinião dos seus seguidores.

Uma crença cultural que se transformou em uma paranoia coletiva. A pessoa que apresenta esse perfil entre em uma paranoia coletiva, e com o discurso validado, para ela não existe dois lados. Então, para o extremista ele está no lado certo da história. Não duvida da convicção dele e foge da realidade, e de certa forma está em sofrimento por não conseguir acreditar no outro. Essa verdade absoluta foge da realidade.

CRENÇA CULTURAL X PARANOIA COLETIVA

Essas pessoas extremistas perdem amigos, perdem família, e está tudo bem. Porque é em nome de uma devoção, elas não se importam. Mesmo que matem, mesmo que machuquem o outro, mesmo que tenham atos terroristas. Não tem problema, porque não vão deixar de amar e adorar aquele líder. Pudemos observar as situações de abandono, pessoas abandonando seus empregos, suas famílias. Estar o tempo todo falando sobre esse assunto, não aceitar o resultado de uma eleição, não aceitar o voto.

Quando falamos em fanáticos políticos trazemos os traços narcisistas, que por si já é um fanático. Por alguma coisa ele é, religião, política, pessoa, relacionamento etc. É uma pessoa difícil de lidar, que é necessário fugir de conversas do foco de fanatismo. O tempo todo ela vai tentar fazer com que você saia do seu controle, pois esse fanático além de ser de comportamento desequilibrado, ele não tem inteligência emocional. Não controla suas emoções e age muito por impulsividade, é uma pessoa que você deve evitar bater de frente.

Fingir que não estar ouvindo e evitar falar, se for alguém da sua família, aí sim você pode impor limites. Tem que impor limites. Se não for alguém muito próximo, um colega de trabalho, por exemplo, melhor fazer a Alice no País das Maravilhas do que debater. Aquela pessoa tem opinião formada e não muda, por mais que mostre evidências.

Como a senhora avalia os atos de invasão aos prédios públicos de Brasília no último dia 8 de janeiro?

Eu vejo a invasão aos prédios públicos em Brasília como algo feito por fanáticos políticos que são extremistas, pessoas que não conseguem olhar a realidade que eles estão vivenciando e que não fazem uma autoanálise.

Essas pessoas passando por tudo isso, cumprindo o que a lei determina e sendo presas, elas não fazem uma autoanálise, param para refletir: ‘será que eu estou errado?, ‘será que o que eu fiz foi errado?’. Não conseguem ter esse limite. O fanático político não se questiona’

SOFRIMENTO PSICOLÓGICO

Dra. Bruna, diante dos últimos anos de debates e disputas políticas intensas, a senhora acredita que há sofrimento psicológico de pessoas que se envolvem politicamente?

O sofrimento psicológico entra justamente na distorção da realidade. Para esse fanático, ele está vendo tudo isso como uma grande perseguição, como uma teoria conspiratória. Acha que todo mundo está conspirando, todo mundo está contra, que há uma perseguição. Ele está vendo aquilo com sofrimento, porque vê o líder dele sendo ‘atacado’ e isso causa sofrimento para eles.

Pensam que estão sendo injustiçados, estão sendo enganados, na mente deles estão sendo perseguidos. Pode acontecer qualquer coisa, mas ele não vai deixar de endeusar o seu líder, ele está vendo tudo isso como algo de dor mesmo. É uma dor para eles porque não puderam fazer nada, tem o perfil de se enxergar infalíveis, e esses atos foi algo que era favorável, que precisava fazer isso como os ‘salvadores da pátria’.

Então, veem isso como algo que não aconteceu e foram interrompidos. Esse movimento político radical que vem surgindo, principalmente nesses últimos anos, mas a gente está vendo esse excesso. E para eles é um sofrimento por ser sua ideologia, é a crença deles, e vai mexer em seus egos.