Do UOL

O policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), afirmou nesta quinta-feira (2), em depoimento ao Ministério Público Federal, que não recebeu informações sobre um suposto vazamento de relatório da Operação Furna da Onça que mencionava seu nome.

Ele também não soube dizer se Flávio foi informado sobre esse documento do Coaf (órgão federal) antes de exonerá-lo do cargo de assessor na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em outubro de 2018.

Queiroz prestou seu segundo depoimento a repeito do vazamento do relatório que compunha a investigação da Operação Furna da Onça, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2018.

A apuração foi aberta após Paulo Marinho, empresário e suplente de Flávio Bolsonaro, afirmar à Folha que o hoje senador lhe disse ter demitido Queiroz em razão das suas movimentações atípicas identificadas pelo Coaf.

O procurador Eduardo Benones, responsável pela investigação no MPF, afirmou que “o depoimento sugere e indica que as investigações devem continuar”.

“Ele não afirmou que ele soubesse da Furna da Onça. Ele não sabe dizer se os outros não sabiam. Ele não sabe afirmar se houve ou não houve o vazamento. Eu diria nesse sentido. Não é que ele disse que não houve vazamento. O que ele falou é que não chegou até ele”, disse o procurador a jornalistas após deixar o presídio de Bangu 8, onde Queiroz está preso.

Queiroz foi preso sob suspeita de tentar atrapalhar as investigações sobre a suposta “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia, prática que consiste no recolhimento de salários de assessores para o deputado.

A investigação foi originada por um relatório do Coaf que apontou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

Além do volume movimentado, chamou a atenção a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia.

A apuração apontou que Queiroz, de um lado, recebia parte dos salários dos assessores, e, de outro, pagava despesas pessoais de Flávio.

O PM aposentado foi preso numa casa em Atibaia do advogado Frederick Wassef, que representava Flávio e o presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o MP-RJ, o advogado era chamado de “anjo” pelos familiares de Queiroz e mantinha um rígido controle sobre o ex-assessor do senador.

Mensagens divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira (2) reforçam essa suspeita. Nelas, Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz que está foragida, afirma que o casal vivia como “marionete do anjo”.

“Deixa a gente viver nossa vida. Qual o problema? Vão matar?”, questionou Márcia em mensagem enviada à advogada Ana Flávia Rigamonti, que trabalha com Wassef.

O Ministério Público do Rio apreendeu com a mulher de Queiroz em dezembro uma caderneta que tinha três contatos anotados à mão que poderiam ajudar a família no caso da prisão do ex-assessor de Flávio, segundo o jornal.

Ainda de acordo com a publicação, havia também no material apreendido números de celulares atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro, ao próprio Flávio, à primeira-dama Michelle e a diversas pessoas ligadas à família.

O senador e sua mulher, Fernanda, foram intimados a depor na próxima semana sobre o caso da “rachadinha”.

A defesa do casal, contudo, questiona o fato de a notificação ter partido do Gaecc (Grupo de Atuação Especializada ao Combate à Corrupção) mesmo após o Tribunal de Justiça decidir que Flávio tinha direito a foro especial.

“Causa espanto à defesa que o grupo de atuação especializada de combate à corrupção [Gaecc] insista em colher depoimento dos investigados. O próprio Gaocrim, que atua na segunda instância e ao qual cabe agora a investigação, interpôs reclamação perante o STF tão logo tomou conhecimento do resultado do HC [habeas corupus] que retirou o foro da primeira instância”, afirmou a defesa do senador, em nota.

O MP-RJ afirmou que o procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussem, delegou ao Gaecc poderes para concluir a investigação.

“O Gaecc, nos mesmos moldes das forças-tarefas de diversos ramos do Ministério Público, atua em auxílio ao promotor natural que, no caso passou a ser o procurador-geral de Justiça. Diante disso, as investigações seguem seu curso normal, sem paralisações desnecessárias por conta de mudanças de competência jurisdicional. O caso segue sob sigilo”, afirmou o MP-RJ em nota.

Em relação à acusação de Paulo Marinho sobre vazamento de operação da PF em 2018, Flávio disse em maio deste ano se tratar de “invenção de alguém desesperado e sem votos”.

Na ocasião, em entrevista à colunista da Folha Mônica Bergamo, Paulo Marinho disse que, segundo ouviu do próprio filho do presidente, um delegado da Polícia Federal antecipou a Flávio em outubro de 2018 que a Operação Furna da Onça, então sigilosa, seria realizada.

Essa operação, segundo ele, teria sido “segurada” para que não atrapalhasse Bolsonaro na disputa eleitoral. De acordo com o relato, Flávio foi avisado entre o primeiro e o segundo turnos por um delegado simpatizante da candidatura de Bolsonaro à Presidência.

Os desdobramentos da operação revelaram um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio e atingiram Fabrício Queiroz.

O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro. Segundo o relato, ambos foram exonerados em 15 de outubro de 2018 por ordem do então candidato à Presidência.