Fotos: Max Rodrigues/Farol

Publicado às 14h desta quarta (3)

Mais de 40 funcionários contratados para trabalharem na construção do residencial Vanete Almeida, pelo programa Minha Casa, Minha Vida em Serra Talhada, passaram o ano novo sem dinheiro no bolso devido o atraso em pagamentos que deveriam ter sido efetuados pelas empresas J3 Construções e Arquitec Engenharia.

Os trabalhadores reclamam principalmente da falta de quitação de direitos trabalhistas, como o FGTS e 13º, além de salários referentes a novembro e dezembro de 2017. Segundo o ajudante de pedreiro José Edson Pereira de Souza, 36 anos, as empresas não deram qualquer satisfação aos empregados e estão só “enrolando”.

“A empresa fica enganando a gente, não quer liberar nosso fundo de garantia, não quer liberar nossa rescisão. Eu estou com minha carteira fichada precisando trabalhar em outra empresa e não tenho condições. Diz que vem quinta, não vem. Diz que vem sexta, não vem. Não diz a gente o dia certo e queremos uma posição certa. Eu estou com despesa de aluguel, água e luz para pagar, estou arriscado de ir para a cadeia porque pago pensão. E isso aí eles não vêm me liberar da prisão? Então eu estou procurando os meus direitos, assim como todos que também estão aqui e mais, porque são de 40 a 60 pessoas”, desabafou José Edson, reforçando:

“Todos estão sem receber os salários de novembro e dezembro, dois meses já. Nem liberaram nosso décimo, nem liberou férias, nem rescisão de contrato, nem liberou fundo de garantia, não liberou nada. Para eles quererem calar a boca da gente liberaram uma quantia de R$ 400 em dois meses que eles estão devendo a gente, R$ 400 resolve em quê? A gente falou hoje diretamente com o engenheiro da obra e a posição que ele nos deu foi a mesma, não falou nada. Ligou para outro pessoal de Maceió e eles também não disseram nada para a gente. Estamos aqui no silêncio total, mas não continuamos trabalhando”.

Já na opinião do pintor Edísio Nunes do Nascimento, 39 anos, as empresas estariam querendo prejudicar os trabalhadores.

“Com certeza eles estão mal intencionados, porque marcaram com a gente várias vezes e quando a gente chega eles ficam remarcando para outro dia, a gente chega no outro dia e eles remarcam para outro dia. Então, a intenção deles é dar um calote, sim. Estamos com bastante funcionários desempregados, todos com as carteiras fichadas e não deram baixa nas carteiras. O pessoal está esperando as férias que não receberam, estão esperando o 13º que nós não recebemos, muitos deles foram mandados para casa de férias e segundo a lei três dias antes o dinheiro tem que estar na conta”, alertou o trabalhador, lembrando:

“Nenhum de nós recebeu um centavo e todos estão precisando, todos pais de família e com compromissos para pagar e nada. Eles ficam enrolando a gente, quando chega lá remarca para outra data e outra data. Já fomos mais de dez vezes e eu queria que qualquer autoridade que nos escutasse que tomasse essas dores por esse povo, esses pais de família e pudesse fazer alguma coisa por nós. Porque não estamos correndo atrás do que é de ninguém, estamos querendo o que é do nosso direito. Queremos que eles liberem o nosso FGTS, para que possamos dar entrada no nosso seguro desemprego e dar baixa na nossa carteira, pague as nossas contas e que possamos arrumar outro emprego”.

REUNIÃO COM AS EMPRESAS

Os trabalhadores, que percorreram vários órgãos de comunicação da cidade nesta quarta (3), entre rádios e sites denunciando o problema, querem que as empresas marquem uma reunião urgente com a categoria para obter alguma resposta.

“Aqui têm pintores, têm pedreiros, têm encanadores, têm ajudantes de serviços gerais, têm carpinteiros, eletricistas e todas essas pessoas estão passando pela mesma situação, nenhuma recebeu os seus direitos. Nós queremos que a empresa nos convoque e nos pague o que temos para receber. E que a autoridade, alguém que esteja nos ouvindo que corram atrás, tomem conhecimento, nos convoquem, coloquem frente a frente com a empresa e que possa escutar o outro lado com os dois lados presentes e ver que nós não estamos inventando nada”, afirmou Edísio Nunes.

POPULAÇÃO PREJUDICADA

Os trabalhadores disseram que, além da imprensa, já recorreram também à Justiça do Trabalho e pedem agora ajuda da prefeitura para que a população não seja afetada, já que as obras serão prejudicadas.

“Nós estamos fazendo o bairro Vanete Almeida. Então, alguém da prefeitura tem que tomar uma providência, apertar essa empresa para poder eles pagarem os funcionários e os funcionários terminarem essa obra. Senão vai ser prejudicado tanto nós, quanto a população de Serra Talhada que foi sorteada para essas casas”, disse Edísio Nunes.

O OUTRO LADO

O Farol de Notícias entrou em contato com a direção da J3 Construções, em Maceió. Em conversa com a reportagem, um dos proprietários, Diogo Rocha, explicou que houve atraso nos pagamentos por conta do atraso no repasse de verba vinda do Ministério das Cidades, que é quem banca a construção do Vanete Almeira em Serra Talhada.

O diretor, no entanto, garantiu que os pagamentos estão sendo efetuados a partir desta quarta (3). “Hoje, 3, já foram pagas as quinzenas do dia 5 de dezembro e do dia 20 de dezembro só faltando para ser quitado ainda o 13º salário, que ficará para segunda semana de janeiro”, garantiu. Indagado sobre a falta de repasse do Governo Federal, Diogo Rocha disse que essa não é a primeira vez que o Ministério das Cidades atrasa.

“Já passamos por esse mesmo problema em 2014 também”, recordou o administrador. Ele disse que  o residencial Vanete Almeida, que teve início em 2014, tem previsão de ser entregue em fevereiro deste ano.