O presidente Michel Temer quer indicar o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) somente após a Corte definir o que ocorrerá com o processo da Lava-Jato. A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, sinalizou que pode realizar o sorteio do relator entre os atuais ministros, para substituir Teori Zavascki, morto na quinta-feira. Ela pretende conversar reservadamente com colegas do tribunal na próxima semana sobre o futuro da operação no Supremo.

Com isso, Temer não teria mais que indicar alguém que já assumiria com essa função e, portanto, teria mais liberdade para fazer a escolha — evitando as acusações de que estaria tentando frear a Lava-Jato. Ainda assim, um de seus auxiliares ressalva que isso não dá a Temer a possibilidade de indicar um ministro que tenha posição contrária às investigações. Como o presidente é advogado e professor de Direito, a decisão do novo ministro deve ser centralizada pessoalmente por ele.

— O STF já sinalizou que vai definir o novo relator. Para o governo, essa sinalização é boa. O presidente Temer só vai decidir um novo ministro depois que houver um relator — diz um auxiliar de Michel Temer.

A escolha terá um formato diferente do que ocorreu nos governos dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Nestas gestões, os ministros da Justiça e da Advocacia-Geral da União tinham papéis fundamentais na escolha, realizando conversas prévias com possíveis indicados. No caso de Temer, a decisão deve ocorrer de forma centralizada pelo próprio presidente. O amplo trânsito entre juristas, porém, tem como consequência uma pressão do meio jurídico, com representantes de diferentes tendências tentando emplacar um magistrado alinhado a suas teses. A ideia é fazer uma escolha rápida, logo após o Supremo definir o novo relator da Lava-Jato.

Na sexta-feira, ainda sem agenda oficial, o presidente recebeu no Planalto duas pessoas do mundo jurídico: Ellen Gracie, ministra do STF de 2000 a 2011, e Grace Mendonça, advogada-geral da União. Temer tem entre seus interlocutores frequentes ex-ministros da Corte, como Nelson Jobim e Carlos Ayres Britto. Um assessor do presidente observa que justamente por ter muitos amigos e conhecidos na área, Temer terá de “escolher” quais telefonemas atender para falar sobre o tema. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), já há movimentação de ministros de olho na cadeira do Supremo.

De O Globo