A Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope) em Serra Talhada está com dificuldades em conseguir doadores para elevar os níveis do banco de sangue da instituição.

Segundo a coordenação do órgão, em conversa com o FAROL, em dezembro a coleta no Hemope foi uma das menores dos últimos anos. O alerta agora é para que volte a crescer devido o período carnavalesco que se aproxima.

O FAROL visitou o centro de hematologia e homoterapia em Serra Talhada para conversar com médica Lúcia Carvalho, que está a frente da coordenação do centro. Ela detalha como a população pode ajudar a formar uma corrente de solidariedade em favor da recuperação do banco de sangue do Hemope no município.

Quem assina a entrevista que vocês vão ler agora é a nossa repórter

Alana Costa.

Vale a pena conferir!

ENTREVISTA DRª LÚCIA CARVALHO

COORDENADORIA HEMOPE SERRA TALHADA

FAROL – Nos chegou a informação que o estoque de sangue está baixo desde o fim do ano no Hemope de Serra Talhada. E que a situação está difícil e preocupante ainda mais com o carnaval se aproximando… Isso procede?

Dr.ª Lúcia – Está mesmo difícil. Sangue não se fabrica. Nós aqui do Hemope/ST tentamos todos os dias conseguir novos doadores e trazer de volta aqueles que já não doam há algum tempo. Muitas pessoas tem medo, ou até mesmo preconceito, quanto à doação de sangue. Podem achar que, se doarem uma vez, precisarão fazer isto sempre e constantemente, o que não ocorre. O corpo humano é inteligentíssimo.

Toda pessoa já nasce predestinada a ter determinada quantidade de sangue no organismo e continuará assim por toda a vida. Se você perder sangue num corte, por exemplo, seu próprio corpo irá repor o que foi perdido, nem mais nem menos. Quando se sofre um acidente mais grave, por outro lado, e dependendo do grau de gravidade, o corpo não pode repor rapidamente o sangue perdido, por isso a doação. As pessoas só precisam entender que não irão perder nada, o sangue será reposto, e ajudarão tantas outras vidas.

Eu posso mostrar a quantidade de sangue que foi doado hoje, e é preocupante. Sangue se precisa constantemente, não se faz numa fábrica assim. Necessitamos da ajuda da população, pensem assim, hoje eu ajudo, amanhã talvez eu precise.

FAROL – Doutora, o que se faz para trazer novos doadores ou chamar aqueles que já não doam há algum tempo?

Drª. Lúcia – Nós temos uma captadora aqui, que é Vânia Belfort. Ela é responsável por divulgar ações e mutirões de doação nas rádios, blogs e jornais da cidade. Além disso, quando precisamos, ela fica ligando para os doadores já cadastrados, manda cartinhas, procura… A intenção é fazê-los entender o quão importante e o bonito é o gesto que fazem. Doar sangue é salvar vidas, quem doa ajuda e se sente bem.

Também temos um movimento chamado “Parceiro Solidário”. As prefeituras das regiões mandam alguns funcionários por mês ao Hemope, para que eles possam doar sangue. Sempre mandam 15 ou 20 funcionários, prefeituras como as de Floresta, Belmonte, Flores, Serra Talhada. Já é uma grande ajuda, grande mesmo. Porém, sempre precisamos de um estoque que seja o suficiente para quem necessitar, mas que também esteja guardado, nunca podemos estar zerados.

FAROL – Quais os horários de funcionamento do Hemope de Serra Talhada?

Dr.ª Lúcia: Funcionamos de segunda à sexta, das 7h às 13h. Para os doadores, o horário é diferente, porque tem que ser enquanto eu estiver aqui, pois sou a única médica e devo estar por aqui até o último doador sair. Para quem vai doar, os horários são: segunda, quarta, quinta e sexta, das 7h às 9h. Nas terças, o horário se estende um pouco mais, vai das 7h às 11h. São nas terças que as prefeituras enviam essas caravanas para a doação.

Infelizmente, nosso quadro de funcionários não é o suficiente para funcionarmos por mais tempo, ou ir até o sábado, por exemplo. Algumas pessoas já me disseram que não doam sangue porque trabalham durante a semana; o único dia em que poderiam seria aos sábados, mas por não termos funcionários o suficiente, não abrimos neste dia. Se houvesse mais funcionários, os horários seriam estendidos durante a semana, e funcionaríamos no sábado, mas não temos como.

Ano passado, o estado realizou um concurso para médicos que se responsabilizassem pelos Hemope’s, mas ninguém foi aprovado para Serra Talhada; ou se foram, não vieram. Eu deveria estar de férias desde o fim do mês passado, mas justamente pela baixa quantidade de sangue em estoque, estou trabalhando, mesmo com um dos braços imobilizados. Como disse antes, eu devo estar aqui até o último doador sair, porque, caso ele se sinta mal, devo ajudá-lo. Se houvesse mais médicos ou mais funcionários, nossa carga horária seria maior, e com certeza mais proveitosa.

FAROL – Dr. ª, quais os requisitos para ser um doador de sangue? E como se dá o processo de doação?

Dr.ª Lúcia: Alguns dos requisitos são: ter entre 16 e 60 anos, se for a primeira vez que for doar. Caso já seja doador, estende-se até os 70 anos. Menores de idade devem vir acompanhados dos pais e/ou responsável e trazer xerox dos documentos, além dos originais;

– Ter mais de 50Kg;

– Não pode ter tido hepatite depois dos 10 anos;

– Não pode ter tido sífilis, ou sofrido infarte ou AVC;

– Deve alimentar-se bem antes. Algumas pessoas pensam que devem doar sangue em jejum, isto não é recomendado! Deve comer-se bem antes de doar, só evite-se comidas gordurosas e/ou pesadas;

– Não pode ter sofrido aborto nos últimos 3 meses, nem pode estar amamentado, exceto se a criança já tiver mais de 1 ano;

– Não pode ter consumido álcool nas últimas 12h, nem fumado nas 2h últimas;

– Se fez tatuagem ou acupuntura recentemente, deve esperar um prazo de 1 ano, se fez endoscopia, um prazo de 6 meses;

– Se tiver tido gripe, resfriado ou crise alérgica, esperar ao menos uma semana depois do fim da gripe ou alergia, antes de doar sangue;

– Não se pode ter um comportamento de risco para DST’s. Uma pessoa que se relaciona sexualmente com diversos parceiros em curtos espaços de tempo tem muito mais risco de desenvolver alguma doença sexualmente transmissível, contaminar-se e contaminar alguém que receberia esse sangue, além de outras doenças que serão descobertas conforme for feita a entrevista.

Quanto ao processo de doação, acontece da seguinte maneira: o doador chega, procura alguém no balcão de informações lá fora e mostra seus documentos. Com tudo certo, é encaminhado à esta primeira sala à direita, onde terá a pressão aferida, será pesado e medido e terá o dedo furado para ver a quantidade de sangue. Se estiver bem, virá para uma segunda sala, onde farei uma entrevista minuciosa com ele. Caso não aja nenhum impedimento, será encaminhado para a doação; mas, antes disso, irá para a lanchonete, tomar algum líquido, que pode ser um suco, um refrigerante ou um achocolatado.

Depois do sangue retirado, voltará à lanchonete mais uma vez, tendo um lanche mais reforçado agora, composto por um líquido, um salgado e um doce. Então, recomendamos que se espere um tempinho antes de ir embora, para que possamos observar o doador e ver se ele não se sentirá mal com isto. E pronto! Assim se fez uma boa ação, assim se torna doador e assim se salva até 4 vidas com uma bolsa de sangue.

Por isso, pedimos à população de Serra Talhada e região que se tornem doadores, de sangue e de medula. Podemos doar hoje e precisar depois. Nosso gesto é simples, o processo é rápido e o resultado é gratificante.