Por Manu Silva, professora, feminista, Coletivo Fuáh, Movimento Diverso e repórter do Farol
Publicado às 04h41 desta quarta-feira (1)
Para quem tem fé, Deus está em todas as coisas. Inclusive, em todas as cores, etnias, sexualidades e identidades de gênero, classes sociais, religiões e culturas.
Como uma das muitas sertanejas criadas dentro da igreja católica, que frequentou o catecismo, as missas aos domingos e estudou um pouco das palavras de Cristo, estou bastante incomodada com a repercussão do espetáculo ‘O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu’ e do protesto do cantor Johnny Hooker têm gerado.
Os protestos contra a liberdade de expressão artística do espetáculo estrelado pela atriz trans Renata Carvalho, partiram anteriormente de outras atrações do evento: Daniela Mercury, Felipe Catto, Gaby Amarantos e Beth de Oxum, Karol Conka e o grupo Nova Cena Pernambucana, a estilista Carol Monteiro.
Johnny é um dos atuais ícones da cultura LGBTQ no país e durante seu show no Festival de Inverno de Garanhuns, na última sábado (28), ele protestou contra a censura a uma peça de teatro que coloca em cena uma travesti representando Jesus Cristo. Formou um coro, junto aos fãs, dizendo: ‘Jesus é bicha!’ e ‘Jesus é travesti!’.
Nos meus tempos de catecismo aprendi que Deus, Jesus, Maria, seus anjos e santos são representações de amor incondicional aos seus filhos e filhas. Sobretudo, que Deus fez o ‘homem’ a sua imagem e semelhança, que o Senhor está em todos os lugares.
Logo, Jesus Cristo está nas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, nos negros, nas mulheres, nos indígenas etc. Essas ‘minorias’ não são inferiores ou ofensivas, somos filhos de Deus igualzinho aos homens, héteros, brancos e cristãos. Se 86% da população brasileira é cristã, podem ter certeza que os LGBTs estão nesse percentual.
Essa intolerância já deixou de ser um problema para o Papa Francisco, por exemplo. O chefe da igreja católica está mais interessado em aproximar os fiéis da fé do que afastá-los. Mas a LGBTfobia de alguns fiéis intolerantes é o que afasta os jovens da igreja. Como acontece em Serra Talhada, por exemplo.
Mudamos de religião, abandonamos a igreja, e nos afastamos de Deus fugindo da “inquisição moderna”. Há quem realmente opta por não ser religioso, por não crer mais em Jesus. Mas e quem mentém sua fé e não pode expressá-la? É papel da igreja e de seus fiéis, que de santos não têm nada, condenar? Eu não aprendi assim.
A minha fé em Deus, em Jesus e em Maria me ensinou a compreender o meu próximo, e pedir a Deus pelo seu bem, independente de quem seja. Minha fé me ensinou a respeitar o outro. Não comungo de uma fé ou de uma Igreja que julga, descrimina e mata seus irmãos e irmãs.
Que Deus nos proteja, Amém!
125 comentários em Deus é LGBT, sim, pois o homem é sua semelhança