Da TV Ilimitada

Boa parte dos adolescentes já se imaginou com superpoderes. O que seriam capazes de fazer tendo algo sobrenatural a seu favor? Quais responsabilidades essas vantagens os forçariam a carregar? Mirando nessa faixa etária, “Shazam!”, que estreia nesta quinta (4) em todo o País, propõe esses questionamentos sobre amadurecimento e escolhas em um filme recheado de cenas divertidas que dão gás para uma trama simples e caricata.

Já não bastassem os graves problemas pessoais para resolver, Billy Batson (Asher Angel) dá de cara com um feiticeiro (Djimon Hounsou, personagem que perde o nome original dos quadrinhos, Mamaragan), dono das habilidades que é um acrônimo de Salomão, Hércules, Atlas, Zeus, Aquiles e Mercúrio. O mago está mais do que desesperado para encontrar um “coração puro” capaz de ser portador desses superpoderes e trancafiar monstros que podem assolar a humanidade.Em questão de segundos, ele se torna um adulto, mas a mente, para deleite da plateia, não acompanha a transformação.

Sempre ao lado de Jack Dylan Grazer (Freddy Freeman), ele tem a chance de ser ajudado a descobrir do que é capaz de fazer e, melhor que isso, tem como aliado uma espécie de superego que auxilia a reprimir seus instintos que parecem apenas querer se divertir com o poder que ganhou com uma palavra mágica – “Shazam!” -, novidade fundamental para salvar o mundo de todo o mal, mote clássico dos quadrinhos.

Freddy e Asher se complementam em uma parceria que lembra muito a dos garotos da série “Stranger Things” e se revelam pontos fortes de “Shazam!”. Quem também se torna uma escolha acertada é Zachary Levi (que já deu as caras nos filmes de Thor, do estúdio concorrente), na função do grande herói.

Perfeito para o papel e muito bem aproveitado, o protagonista coloca todo o espírito ingênuo em forma e conteúdo que o filme pede. São dele as cenas hilárias dos tropeços – que podem cansar pelo excesso. Billy se diverte muito e entende a tempo a responsabilidade que repousa sobre seus braços. É nesse momento que o filme lembra muito outro título, “Quero Ser Grande” (1988), que retrata nada menos que um menino se transformando em adulto durante a noite.

O vilão da vez é Dr. Silvana. Zombado e desencorajado pela própria família, quer provar a si mesmo capaz de ser o mais poderoso que possa se tornar. Infelizmente, a personagem se limita a apenas isso. Mark Strong não escapa da armadilha do papel raso que recebeu e traz apenas alguém exagerado no modo de se comportar para o grande antagonista que deveria ser.

A simplicidade do longa-metragem se estende aos efeitos especiais. Os Sete Pecados Capitais, monstros que não desgrudam do Dr. Silvana, surgem exageradamente mal acabados. São tão simplórios que sugerem terem sido intencionalmente inspirados em criaturas dos anos 80 e 90, como Geleia e Zuul de “Os Caça-Fantasmas”. O templo onde eles estiveram aprisionados também não consegue acompanhar a perfeição técnica de “Shazam!”.

Mesmo colorido e com cenas de ação interessantes, “Shazam!” não tem a intensão de se equiparar a exuberância carnavalesca de “Aquaman”. O longa é a consolidação da nova fase da DC Comics nos cinemas. O estúdio desistiu de vez de se opor ao que a Marvel propôs, abandonando a ideia de iniciar sua saga com um filme reunindo vários personagens para apresentar um a um com calma.

A DC Comics também mostra ter se rendido ao jeito adolescente de Billy com filmes divertidos e diferentes da mania de se levar muito a sério com “produções adultas”, com exceção provavelmente ao “Batman” (2021) de Matt Reeves. Após “Mulher-Maravilha”, “Aquaman” e “Shazam!”, dá mais fome de esperar o que nos aguarda com “Novos Deuses”, “Coringa” (agora na pele do talentoso Joaquin Phoenix) e “Aves de Rapina”. E, sim, vale a pena esperar pelas duas cenas pós créditos.

De Capitão Marvel a Shazam

O famoso personagem foi criado pela editora Fawcett Comics, em 1940, tendo sua aparência baseada na do astro Fred MacMurray. O herói fez tanto sucesso na época que ofuscou o brilho do Homem de Aço. Irritada com o feito, a DC Comics acusou a empresa de plagiar sua principal criação.

Após extensa batalha judicial, Fawcett desistiu de Shazam e, em 1972, a própria DC comprou todos os direitos do herói. Foi aí que o nome Marvel se perdeu. A necessidade surgiu por conta do nome do estúdio concorrente e que batizou um de seus personagens da mesma forma.

Antes de Zachary Levi, Shazam já foi interpretado por dois atores diferentes entre os anos 1974 e 1976 na televisão. Isso porque Jackson Bostwick precisou ser substituído por John Davey, após ser considerado muito indisciplinado e resolver exigir um salário alto demais para na época.