Foto: Arquivo/ Farol de Notícias

Por Folha de Pernambuco

Os servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Pernambuco vêm mostrando resistência quanto a terem um nome político indicado para assumir a superintendência regional do órgão. Segundo a servidora Gilvânia da Hora, que também é presidente da Associação dos Especialistas em Meio Ambiente do Ibama (Aema-PE), alguns estados já conseguiram ter como escolhidos técnicos do próprio quadro do instituto. Em Pernambuco, no entanto, isso pode não acontecer.

“Houve um congresso, em maio, quando levantamos várias pautas, uma delas é para que os novos superintendentes fossem técnicos da casa, que entendem como é a nossa atividade, como é o plano de trabalho, que sabem como devemos executar nossas ações. Alguns estados já conseguiram isso. Só na Região Norte, cinco dos sete estados tiveram servidores do próprio órgão nomeados”, lembrou ela.

O que, segundo Gilvânia, era um consenso com o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e com a ministra do Meio Ambiente, Marina da Silva, desandou quando os servidores do órgão em Pernambuco descobriram, entre maio e junho deste ano, que o novo superintendente seria indicado por um deputado federal, no caso Túlio Gadêlha (Rede-PE).

Diante da informação, os servidores marcaram uma primeira reunião com o parlamentar que foi adiada. No último sábado (8), eles conseguiram o encontro com Gadêlha, que segundo Gilvânia, os recebeu muito bem e ouviu atentamente o pleito dos funcionários. “Ele foi sincero. Disse que realmente tinha sido repassada a ela a tarefa de indicar o superintendente, que já tinha um nome e que esse nome já estava certo para ser publicado no Diário Oficial”, contou.

Reunião com Marina
A servidora adiantou, ainda, que o parlamentar iria se reunir na segunda-feira (10) com a ministra Marina Silva para deixá-la a par do pleito do servidores. “Ele não negou que realmente tinha em mãos a indicação do superintendente do Ibama em Pernambuco, mas pediu esse tempo para nos dar uma resposta até amanhã (hoje, 11)”, acrescentou.

Túlio teria dito, ainda, que o nome indicado por ele é uma pessoa sensível à questão ambiental. “Isso não significa dizer que a pessoa entende. O Ibama-PE tem um nome a zelar”, complementou. O nome indicado por Túlio, segundo Gilvânia, é o do ex-deputado Wanderson Florêncio (Solidariedade).

A Folha de Pernambuco entrou em contato com Túlio Gadêlha, via whatsApp, que afirmou que esta semana deve ter algumas definições sobre a questão e que assim que houver novidades, fala com o jornal. “Estarei reunido com a ministra Marina para tratar sobre o assunto”, arrematou.

O nome defendido pelos servidores do Ibama-PE para assumir a superintência é o da engenheira Lisânia Rocha Pedrosa, técnica da casa e já superintendente-substituta há dez anos. “É uma pessoa supercompetente, e a gente quer que ela que exerça a superintendência”, defendeu Gilvânia.

Carta
Depois da reunião com Túlio, a Aema-PE fez circular uma carta aberta à classe política pernambucana. “Nós, os servidores do Ibama no estado do Pernambuco, estamos profundamente preocupados com a continuação da cultura de nomeações e interferências políticas em nosso órgão. Como responsáveis pela fiscalização, licenciamento, auditoria e regulação ambiental, todas atribuições de Estado e não de governo, somos testemunhas dos impactos negativos que a política pode ter em nossa missão de proteger o meio ambiente e os recursos naturais do país”, diz o começo do texto.

No final da carta, os funcionários dizem esperar que a classe política do Estado, “que historicamente sempre se coloca a frente dos interesses da sociedade e da construção de uma nova forma de fazer política”, entenda a relevância da independência e autonomia do Ibama e apoiem os esforços para proteger o meio ambiente e os recursos naturais do país. Para isso, sugere o documento, eles (os políticos) devem retirar as indicações de pessoas de fora do quadro de servidores do Ibama para o cargo de superintendente.