Foto: Divulgação/NASA

Por Folha de Pernambuco

O aumento do turismo espacial nos últimos anos, devido a companhias como SpaceX e Virgin, fez crescer o interesse sobre os riscos e possibilidades da reprodução sexual no espaço.

O holandês Egbert Edelbroek, cuja empresa, a Spaceborn United, é pioneira no tema, disse à agência AFP, em novembro, estar confiante que verá uma “criança humana extraterrestre” nascer durante o seu tempo de vida. Para tanto, contudo, a ciência precisa avançar ainda em alguns pontos e vencer os desafios impostos pelo espaço.

— É importante que a Terra e a humanidade possam se tornar uma espécie multiplanetária. Se quisermos ter assentamentos humanos independentes fora da Terra, e se realmente quisermos que sejam independentes, também precisamos enfrentar o desafio reprodutivo — disse o empresário.

O primeiro desafio é a prática de relações sexuais no espaço, onde a falta de gravidade faria com que os parceiros se afastassem um do outro. Outro, é o impacto da radição, bem como da falta de peso, na saúde sexual de homens e mulheres. Em novembro, um estudo americano indicou que a exposição à radiação e a falta de gravidade podem causa disfunção erétil. Segundo os cientistas, os dois fatores podem prejudicar a função dos tecidos eréteis, com efeitos durando potencialmente por décadas.

— Embora os impactos negativos da radiação tenham sido duradouros, as melhorias funcionais induzidas pelo direcionamento agudo das vias redox e do óxido nítrico nos tecidos sugerem que a disfunção erétil pode ser tratável — disse ao The Guardian o Dr. Justin La Favor, especialista em disfunção neurovascular na Florida State University e autor sênior do estudo.

No documento, os cientistas cobraram um estudo mais aprofundado sobre a saúde sexual dos astronautas, com monitoramento próximo após missões no espaço profundo.

“Embora a disfunção erétil afete mais da metade dos homens com mais de 40 anos e represente um fator importante para a satisfação com a vida, as consequências das viagens espaciais na função erétil ainda são obscuras”, escrevem os pesquisadores no jornal Faseb.

Até que os testes avancem com humanos, ratos de laboratório estão sendo colocados à prova. Eles foram expostos a raios cósmicos galácticos simulados no Laboratório de Radiação Espacial da NASA, em Nova Iorque. A análise dos tecidos dos roedores um ano depois revelou que mesmo a baixa exposição à radiação aumentava o estresse oxidativo nos animais. Isto prejudicou a função da artéria que fornece sangue ao pênis e ao tecido erétil.

Concepção espacial

Por conta disso, a Spaceborn United optou por outra estratégia, que envolve a concepção de um embrião, sem a prática do ato sexual.

Começando com camundongos, antes de passar para espermatozoides e óvulos humanos, a empresa criou um disco que mistura as células, com o objetivo de produzir um embrião viável.

“É como uma “estação espacial para suas células”, disse Aqeel Shamsul, CEO da Frontier Space Technologies, com sede no Reino Unido, que está trabalhando com a Spaceborn no projeto. Este embrião é então congelado criogenicamente, para interromper o seu desenvolvimento, mas também para protegê-los durante a reentrada na atmosfera.

— É muita agitação, muita vibração, muitas forças G. Você não quer expor os embriões para isso — disse Edelbroek.

A pesquisa está atualmente em andamento, em condições simuladas de gravidade parcial em laboratório, mas Edelbroek disse que um lançamento com células de camundongos está planejado para o final do próximo ano, com um cronograma de “cerca de cinco ou seis anos” para o primeiro lançamento com um embrião humano.

Os efeitos da falta de gravidade sobre embriões ainda não são totalmente conhecidos, apesar de um recente estudo de cientistas japoneses indicar ser possível o seu desenvolvimento. Em outubro, pesquisadores da Univerisdade de Yamanashi anunciaram terem conseguido criar embriões de ratos em ambiente de micro-gravidade na Estação Espacial Internacional.

— É um tema delicado. Você está expondo células humanas vulneráveis, embriões humanos, eventualmente, aos perigos do espaço, à radiação que é muito maior do que na Terra, a diferentes ambientes de gravidade para os quais os embriões nunca foram projetados — disse Edelbroek.

Estas questões éticas são uma das razões pelas quais a investigação sobre a reprodução espacial tem sido geralmente deixada para empresas privadas como a Spaceborn, e não para a NASA, que se sente desconfortável em gastar dinheiro dos impostos em temas tão delicados.

Edelbroek disse que sua empresa era a única que buscava desenvolver um embrião humano no espaço. Os fluidos corporais que são puxados para baixo na Terra seriam atraídos para cima num ambiente de baixa gravidade, representando vários desafios para o corpo humano.

— Um corpo adulto pode lidar com algumas diferenças, mas você não quer expor um feto em crescimento e mais vulnerável a essas diferentes variáveis. Então você precisa primeiro criar o ambiente perfeito — disse ele.