Do G1

Por incrível que pareça, só agora, após oito mil mortos pelo novo coronavírus, o governo da Suécia recomendou à população o uso de máscaras faciais, ainda assim em transportes públicos e no horário do rush. Desde o início da pandemia, o país demarcou distância de seus vizinhos europeus: não determinou bloqueios rígidos e foi permissivo com quarentenas e aglomerações.

A vida seguiu aos trancos e barrancos até a segunda onda, que castiga ainda mais duramente o país de 10 milhões de habitantes. Na semana passada, em apenas um dia, foram registrados 9.600 novos casos de Covid-19 com mais de cem mortos. A taxa de 770 mortes para cada milhão de pessoas põe a Suécia no topo dos países nórdicos, seguido de longe pela Dinamarca, com 168 por milhão.

Despencou a confiança dos suecos nas autoridades de saúde, que acreditavam que a imunidade de rebanho poderia ser alcançada e pouparia o país de um rebote do surto. Apenas um terço acredita na estratégia do governo, que, nas duras palavras do rei Carl XVI Gustaf, fracassou.

“Falhamos e não salvamos vidas”, atestou o monarca numa rara intervenção política. Nem a família real escapou do vírus, que infectou o príncipe Carl Philip e a mulher Sophie.
O próprio primeiro-ministro, o social-democrata Stefan Lofven, reconhece que seu governo não soube lidar com a pandemia. Uma comissão independente integrada por acadêmicos concluiu que as autoridades falharam em proteger a população idosa, que perfaz 90% dos mortos pela Covid-19. A pandemia expôs também as deficiências estruturais do país no atendimento aos mais velhos, com centros de saúde despreparados e mal equipados.

O governo corre para dirimir os erros. Desde o início do mês, escolas de ensino médio e universidades estão fechadas. Bares e restaurantes reduziram pela metade a capacidade de frequentadores e não podem vender bebidas alcoólicas depois das 20h.

Shoppings e academias permanecem abertos, mas com capacidade limitada. Reuniões públicas com mais de oito pessoas estão proibidas. Até então, o limite era de 300.

As novas restrições podem parecer amenas em relação aos demais vizinhos, mas, tratando-se do governo de centro-esquerda que resistiu o quanto pôde ao lockdown, é um passo significativo.

“Bloquear uma sociedade também é um fardo para a população”, avalia o premiê Lofven diante do inevitável prognóstico de que a crise sanitária ainda vai se agravar. Foi-se o tempo da camaradagem e da tolerância sueca com o novo coronavírus.