Da Folha de PE

“Por que fazer ‘Toy Story 4’?” A pergunta ecoa no campus arborizado da Pixar, em Emeryville, nos arredores de San Francisco. E ela não passa apenas pelas mentes dos jornalistas que assistiram a cenas da quarta animação protagonizada pelo caubói Woody e pelo astronauta Buzz Lightyear.

O questionamento vem de Josh Cooley, roteirista de “Divertida Mente” que foi alçado a diretor do novo filme da franquia, considerada a “maior joia do estúdio”, na visão do produtor Mark Nielsen. “Tinha a mesma pergunta. Para onde podemos ir depois do terceiro filme?”, confessa Cooley a este repórter. “Começamos a pensar como Woody se relacionaria com uma nova criança e na maneira de pôr aqueles personagens numa situação inédita.”

Mas o caminho para a criação de “Toy Story 4” ganhou obstáculos quando, em 2017, John Lasseter, fundador da Pixar e criador de “Toy Story”, foi afastado pela Disney (dona do estúdio) por causa de más condutas com mulheres –ele deixou a companhia de vez no ano passado. A notícia causou um terremoto na Pixar, que, pela primeira vez, faria “Toy Story” sem a participação de Lasseter. Depois, a saída de Rashida Jones e Will McCormack do roteiro chegou a ser ligada às transgressões do executivo.

“Não é verdade”, escreveram os roteiristas num comunicado. “Saímos por diferenças criativas e, mais importante, filosóficas. Há muito talento na Pixar e continuamos fãs. Mas há uma cultura em que mulheres e negros não têm vozes criativas em pé de igualdade.” O recado foi ouvido. “É prioridade agora para a Pixar ser um lugar seguro onde pessoas sintam ter uma voz”, afirma o produtor Mark Nielsen. Apesar desse turbilhão de notícias, “Toy Story 4” se mostra um longa inabalável, tentando entender o recado das mulheres. A trama prioriza a missão de Woody em ajudar a garotinha Bonnie a manter seu brinquedo preferido, o hilário Garfinho, animado pelo brasileiro Claudio de Oliveira.

Mas a aventura leva o caubói ao mundo exterior, onde reencontra sua antiga paixão, a boneca de porcelana Betty, que ganha um protagonismo maior que o de Buzz. “Ninguém achava que ‘Toy Story 4’ aconteceria, mas pulei no barco assim que soube que Betty seria a força motriz do filme”, revela Valerie LaPoint, supervisora de roteiro e contratada da Pixar desde 2007. “Pessoalmente, é inspirador. Amo o mundo de ‘Toy Story’, mas as meninas ainda estão em desvantagem nele.”

A trama do longa vai surpreender fãs da franquia por tomar riscos ao expandir o seu universo e pelo final – além de personagens dublados, na versão original, por nomes como Keanu Reeves, Christina Hendricks, Jordan Peele e Keegan-Michael Key; além, é claro, de Tom Hanks, que dá voz a Woody. Mark Nielsen, o produtor, diz enxergar os três primeiros longas como um “volume perfeito de três livros para colocarmos na estante”, enquanto “Toy Story 4” abre “vários caminhos” para o futuro da franquia. “Quem sabe o que o futuro reserva”, diz o diretor. “Toy Story” não deve parar tão cedo e, como Buzz Lightyear costuma dizer, a série agora pode ir “ao infinito e além”.

NOVOS PERSONAGENS

Garfinho

Um dos personagens principais do novo filme, o brinquedo foi criado por Bonnie na escola com um talher descartável. Ele não aceita sua nova condição e só deseja pular na primeira lixeira que encontrar pelo caminho

Coelhinho e Patinho

Dupla de pelúcia, são brindes de uma atração do parque de diversões. Funcionam como válvula de escape humorístico do novo longa

Gabby Gabby

A boneca antiga mora em um antiquário e sonha em ser adotada por uma criança. É uma espécie de vilã, porque quer roubar a caixa de voz de Woody e comanda um grupo de capangas

Duke Caboom

Dono de uma moto, o boneco articulado é um dublê de circo. Traumatizado, ele foi abandonado pelo antigo dono

Isa Risadinha

O brinquedo em miniatura é a principal companheira de Betty, a personagem de porcelana que foi affair de Woody quando eles moravam com Andy e que agora vive livre e sem uma criança