DSC_0396Fotos: Farol de Notícias / Alejandro García

Tradição é coisa forte aqui no Sertão, faz de conta que é raiz de árvore grande, finca na terra e floresce de geração em geração. Em uma palavra, um costume, um jeito de ganhar a vida: a Bodega. Traduzida para os termos de granfino é armazém ou mercearia. O eterno ofício de Valdelicio Pereira Lima, 79 primaveras, nascido na Fazenda Caiçara, quer dizer homem simples. Lá nas bandas de Bernardo Vieira, herdeiro do fazendeiro criador de gado. Senhor de nome sugestivo e vitalidade em dia, sempre quis ser comerciante para tirar o sustento, desde 1970 vendia de tudo que aparecesse na frente de boi até feijão e arroz.

Como dizem que é de lei dos Pereiras, casou em família no primeiro amor juvenil com a prima legítima Paula Francinete Pereira de Oliveira, hoje com 74. Ele tinha 21 anos e ela 16, um amor que já passou meio século. Com vontade própria de começar a vida fora “passou de passagem” no Paraná, arribou para Goiás, depois do Maranhão voltou para casa. De prole teve oito rebentos já crescidos, seis do sul e dois nordestinos, deram 14 netos que por sua vez já tem é bisnetos. Em Serra Talhada trabalhou no mercado público, fixou residência na Joaquim Conrado de Lorena e Sá desde 1984, e da varanda do lar voltou ao comércio. Ver o que Deus podia lhe dar.

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Valdelício na sociedade é homem bem quisto. O povo do mato vinha para a feira na segunda comprar do seu varejo os mantimentos e a mistura do ‘dicumê’. A mulher chamou de secos e molhados e que era apenas um beco, o filho espia a conversa de um lado, observa todo animado a história bonita do pai. “Graças a Deus”. Não lembra o apurado, mas o que sobrasse era seu e diz que vendia bem. “Tirava toda a criação dos filhos do comércio, sustentei todos e agora um dos caçulas continua com o ponto”. Hoje em dia diz que as coisas não estão tão boas, pois a crise chegou para todos e mesmo aposentados todo dia descansa ao lado do antigo pão de cada dia.

De bodega para mercearia com nome próprio, alvará e funcionário, tudo passou pela modernização do caçula. Tem rudilha, japonesa, lâmpada, pilha, cola super bond, fralda, alicate, lápis e emborrachado encarnado; cocada, pão, leite, queijo e ovo, quisuco, kitut, salgadinho, sorvete, amendoim e bombom. Sandro Pereira, 45 anos, de tão acanhado para não sair no retrato, quase não diz o nome, mas garante que do tempo do pai só restou o balcão e o caderno de fiados com uns 200 clientes que ainda deixam pendurado. O homem sabido, desenrola economia, biologia, inglês para a filhinha e ainda cuida do apurado de fregueses que há 50 anos não deixam o mercado.

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